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Arapiraquense relata os desafios e belezas em ser mãe de uma criança com deficiência

Em Arapiraca, 16 crianças tiveram diagnóstico confirmado como microcefalia provocado pelo zika vírus

Por Erick Balbino/7 Segundos 08/05/2021 18h06 - Atualizado em 08/05/2021 21h09
Arapiraquense relata os desafios e belezas em ser mãe de uma criança com deficiência
Adriana e os filhos Mateus e Bernardo - Foto: Acervo Pessoal

O surto do vírus Zika, transmitido pelo mosquito Aedes Aegypti, impactou milhares de famílias pelo Brasil entre os anos de 2015 e 2016. O Nordeste foi a região que concentrou mais casos da síndrome congênita, que acabou resultando um problema ainda maior: o nascimento de bebês com problemas cerebrais, dentre os quais está a microcefalia.

De acordo com dados da Coordenação de Saúde da Criança da Secretaria Municipal de Saúde de Arapiraca, por aqui, cerca de 16 bebês nasceram com microcefalia naquela época, e tiveram seus diagnósticos confirmados como sendo decorrentes da Síndrome Congênita Zika Vírus.

Com pouca informação e no meio de um turbilhão de notícias, a arapiraquense Adriana Kelly da Paz Lira dava a luz, em fevereiro de 2016, ao seu segundo filho, Bernardo, hoje com 6 anos. 

"Minha gestação foi normal, fiz todos os exames e acompanhava todos os meses o bebê através de ultrassonografia. O médico sempre me dizendo que estava tudo bem. A única coisa que senti de diferente foi o sintoma do Zica Vírus, que no período tinha começado a ser divulgado nos jornais, então pensávamos que era alguma alergia", disse ela.

"Bernardo nasceu um bebê normal em todos os sentidos, porém nasceu pequeno e avisei ao obstetra sobre os sintomas que eu tinha tido da doença quando estava com 3 meses de gestação. No momento do nascimento de Bernardo, todos tinham conhecimento já, através da TV, dos casos das crianças nascidas com microcefalia", continuou.

Segundo Adriana, por precaução, no dia do nascimento de Bernardo, o médico pediatra que acompanhou o parto pediu para realizar um exame de tomografia para ter a certeza de que o bebê estava totalmente bem.

"Foi nesse momento que senti medo. Não medo de ter um filho com deficiência, mas o medo do desconhecido. E o resultado foi o que eu menos desejava, Bernardo tinha nascido com lesões no cérebro, aparentemente em decorrência do zika vírus, pois eu não tinha realizado nenhum exame para constatar tal fato, inclusive quando eu tive os sintomas nem exame existia ainda", relatou a mãe.

A certeza de que Bernardo tinha sido afetado pela zica vírus adveio de um exame feito na Rede Sarah Salvador, onde ele passou a ser acompanhado e é até hoje. O exame deu positivo para síndrome congênita do Zika Vírus.

De lá para cá, a luta para que Bernardo tivesse acesso a todo tipo de terapia que impulsionasse o seu desenvolvimento começou.

"Ele foi crescendo e apresentando atraso no desenvolvimento. A partir daí, Bernardo já fazia todos os tipos de terapias para a idade dele, iniciou com poucos meses", explicou Adriana.

Amor acima de toda adversidade

Ter um filho com deficiência para muitas mães pode ser um problema muito grande, mas pra Adriana, é uma dádiva que exige um pouco mais de empenho, paciência e amor.

"Como mãe, nunca senti Bernardo como um filho diferente. Os cuidados, lógico, são muito mais intensos, e é muito cansativo, e quem cuida de pessoas com deficiência se dedica praticamente com sua vida inteira para eles. Nossa vida fica muito limitada. Ele não anda só, não come só, não fala ainda. Tem terapias todos os dias, acompanho ele em fisioterapia, fonoaudióloga, equoterapia, terapia ocupacional, e tenho sempre o cuidado de estimular também em casa. Os cuidados com ele são 24 horas por dia, sete dias por semana", relatou.

"Bernardo é um ser de luz! Criança muito alegre e muito amorosa, gosta de beijar, abraçar muito. Brincalhão e ama música. Corajoso e tem vontade de fazer tudo sozinho, embora não consiga", continuou a mãe orgulhosa.

De acordo com Adriana, o dia-a-dia não é nada fácil, mas o amor é tão puro e tão infinito que qualquer esforço é gratificante. A alegria de ver o Bernardo progredir em qualquer coisa, por menor que seja, vale muito. Para ajudar nessa rotina nada fácil, Adriana conta com uma rede de apoio muito importante formada pelos seus pais, Carlindo de Lira e Rita de Cássia, seus irmãos, Alexandre Lira e Dênis André, e seu filho mais velho, irmão de Bernardo, Mateus.

"Essas pessoas são as que mais me apoiam nessa jornada, neste momento", disse Adriana emocionada. 

Para ela, toda a recompensa por esse trabalho ela recebe em forma de amor por parte dos dois filhos, Mateus e Bernardo, de 10 e 6 anos. 

"O amor do Mateus e do Bernardo foi o melhor presente que eu poderia ganhar nesta vida. É neles que eu ganho força para lutar todos os dias. Como mãe, sou totalmente realizada e feliz. Sou grata todos os dias por eles. Amo demais!", finalizou.