Sertão

Após sepultar “estranho” no túmulo da família, parentes enterram idoso em Delmiro Gouveia

Família de Olho d`Água das Flores aguarda exumação de corpo que foi trocado no Hospital de Emergência do Agreste

Por 7Segundos 14/04/2021 13h01
Após sepultar “estranho” no túmulo da família, parentes enterram idoso em Delmiro Gouveia
Cemitério Santa Rita de Cássia, em Olho d'Água das Flores - Foto: Ilustração

A troca dos corpos de dois idosos que morreram no último domingo (11) no Hospital de Emergência do Agreste, ainda causa transtornos às duas famílias envolvidas. Após sepultar um “estranho” no túmulo da família, Manoel Ferreira de Lima precisou ser enterrado em outra sepultura por parentes em Delmiro Gouveia. Enquanto isso, a família de Manoel Ferreira Damasceno aguarda decisão judicial para a exumação do corpo sepultado por engano em Delmiro, para que a família possa fazer a última despedida antes de enterrá-lo em Olho d`Água das Flores.

Os dois idosos estavam internados no Hospital de Emergência do Agreste, em Arapiraca, e morreram com aproximadamente uma hora de diferença. Manoel Ferreira de Lima tinha 77 anos, era negro e residia em Delmiro Gouveia; já Manoel Ferreira Damasceno tinha 98 anos, pele clara e era natural de Olho d`Água das Flores.
O hospital emitiu nota confirmando que o servidor que encaminha os corpos para o necrotério do hospital cometeu um equívoco e trocou as fichas dos pacientes. O caso está sendo investigado em um procedimento administrativo interno. Leia a nota, na íntegra, ao final da matéria.

Ambos morreram de Covid-19 e, por conta dos protocolos sanitários, os caixões foram lacrados e os sepultamentos não podem acontecer com velórios e nem na presença de muitas pessoas. A troca dos corpos só foi descoberta após a insistência de uma neta de Manoel Ferreira Damasceno, 98, em fazer o reconhecimento do corpo do avô.

Em entrevista para a imprensa no Sertão, ela contou que apesar de a família ter sido informada sobre o óbito do idoso de 98 anos na tarde de domingo, eles só puderam fazer o recolhimento do corpo na segunda-feira, devido às fortes chuvas que caíram em Olho d’Água das Flores. A mulher conta que insistiu em fazer o reconhecimento do avô e foi informada pela Assistência Social do hospital que era possível apenas por fotografia. Ela então solicitou ao pessoal da funerária para fazer uma foto do corpo e prosseguiu com os procedimentos necessários para a liberação do corpo.

A mulher declarou que só voltou a cobrar o pessoal da funerária quando o corpo estava prestes a ser sepultado no cemitério de Olho d’Água das Flores. O agente funerário não fotografou, mas entregou a ela uma foto impressa que estava junto à ficha do corpo. Só então o erro foi percebido, deixando os familiares em choque.

A Vigilância Sanitária do município foi acionada para o cemitério e o caixão foi aberto. Houve a constatação de que o corpo era o da mesma pessoa que aparecia na foto e não se tratava de Manoel Ferreira Damasceno. Após devolver o corpo ao Hospital de Emergência do Agreste, a mulher descobriu que o corpo era de Manoel Ferreira de Lima e que o avô dela havia sido enterrado no lugar dele, em Delmiro Gouveia.

Os familiares de Manoel Lima foram avisados do “equívoco” pelo hospital e ficaram estarrecidos. Eles buscaram o corpo do idoso de 77 anos e sepultaram na terça-feira (13), em outro túmulo, no mesmo cemitério em Delmiro Gouveia. Segundo informações, eles estão revoltados porque não puderam atender o último desejo do idoso, de ser enterrado ao lado da companheira, na catacumba da família.

As duas famílias registraram boletim de ocorrência na Polícia Civil em Arapiraca e em Delmiro Gouveia e não descartam a hipótese de acionar judicialmente o hospital. A exumação do corpo de Manoel Damasceno, em Delmiro Gouveia, estava prevista para a terça, mas não teria ocorrido porque a decisão judicial não chegou à tempo.

O Hospital de Emergência do Agreste se manifestou sobre o caso por meio de nota:

A direção do Hospital de Emergência do Agreste, em Arapiraca, esclarece que nunca ocorreu esse tipo de episódio na unidade pública de saúde.

O HE do Agreste foi o primeiro hospital em Alagoas a criar o Núcleo de Segurança do Paciente (NSP), para garantir um atendimento cada vez mais humanizado aos usuários.

Nesse caso específico, o outro paciente era homônimo, ou seja, ambos tinham os mesmos nomes e procediam de cidades próximas no Sertão de Alagoas.

O servidor de plantão, que encaminha o corpo para o necrotério do hospital, por um equívoco, colocou a ficha no outro paciente e, por conta disso, ocorreu a troca dos corpos.

A direção do hospital ficou sabendo do ocorrido, conversou com familiares dos pacientes e explicou o motivo da troca, além de ter aberto um procedimento administrativo interno.

Em relação aos nomes dos pacientes acometidos de Covid-19, eles têm suas identificações preservadas. Esse é um procedimento adotado em todos os hospitais do Brasil e também de outros países.

Só há divulgação do nome quando o paciente recebe alta hospitalar e a família autoriza.

Nesse caso, até agora, as famílias não autorizaram a divulgação dos nomes dos referidos pacientes.

A Direção