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Após perder posses, idoso encontra alegria vendendo amendoim em Arapiraca: "Só paro quando morrer"

José Nildo chegou a ter quatro carros na garagem, incluindo caminhonete nova. Perdeu tudo, mas aos 73 anos precisa trabalhar como ambulante

Por Vilceia Melo 23/02/2021 12h12 - Atualizado em 23/02/2021 12h12
Após perder posses, idoso encontra alegria vendendo amendoim em Arapiraca: 'Só paro quando morrer'
Há 23 anos, José Nildo vende amendoim no Centro de Arapiraca - Foto: 7Segundos

Quem anda pelas ruas do Centro de Arapiraca, principalmente pela Praça Luiz Pereira Lima, com certeza já viu um vendedor de amendoim que comercializa o produto na esquina entre as ruas Esperidião Rodrigues e Domingos Correia.

Há 25 anos José Nildo Souza,73 anos, mais conhecido como "Amendoim", repete o mesmo ritual : chega às 8h da manhã com sacos de amendoim cozinhado, seco e verde para iniciar mais um dia de trabalho. 

O ponto de venda durante essas quase três década de trabalho é a calçada de um prédio onde funciona uma farmácia, cujo proprietário cedeu o espaço para que o trabalhador autônomo comercializasse o produto para ajudar na renda familiar. " O proprietário do prédio é um conterrâneo meu de Feira Grande, o Zé Baié, ele disse que eu poderia ficar aqui até quando eu quisesse",afirmou o vendedor.


Durante entrevista ao Portal 7Segundos , José Nildo contou que antes de vender amendoim ele já foi um "homem de posses. Já teve terras para cultivar lavoura, carros e vivia uma vida mais abastada, mas acabou perdendo tudo. "Eu já possuí quatro carros, comprei até uma caminhonete D10 zerada na Autoasa, mas fiz muita besteira e não soube administrar meu dinheiro.Mas dou graças a Deus que tenho saúde para continuar trabalhando", revelou.

Ele conta que as vendas de amendoim não estão tão boas como em tempos anteriores, por semana já chegou a vender quase três sacos de amendoim, mas agora as vendas não alcançam nem um saco e meio. " Antes era praticamente só eu que vendia amendoim aqui no Centro, agora tem muita gente vendendo, além de outras frutas e alimentos que dividem as vendas", afirmou.

Em todos esse anos vendendo diariamente amendoim na mesma esquina de Arapiraca, José Nildo disse que presenciou o cotidiano dos arapiraquense e de moradores de outras cidades. Também já foi testemunha de muitos acidentes neste cruzamentos das duas ruas.

"Uma vez um rapaz de moto bateu em um carro e veio parar aqui bem aqui na calçada , pertinho de mim.Foi um susto danado", lembrou o vendedor.


José Nildo também foi alvo dos marginais, e conta que durante um cochilinho rápido que tirou no final da tarde, teve a carroça com sacos de amendoim roubada. Mas ele disse que isso é o que menos importa, com seu jeito alegre e descontraído, fez muitas amizades durante esse tempo todo. 

Clientes fiéis, como Sandra Balbino, que trabalha em uma ótica no Centro de Arapiraca, e mesmo tendo outros vendedores de amendoim perto do trabalho dela, faz questão atravessar a Praça da Prefeitura para comprar produto com José Nildo. "Eu sou cliente dele há muitos anos, seu Nildo faz parte do cotidiano de Arapiraca", afirmou Sandra Balbino.

José Nildo disse que é um homem feliz, emocionado ele lembrou do ensinamento que herdou do pai : nunca pegar nada que não lhe pertence .

"Quando eu era pequeno a gente vivia pelos sítios la na zona rural de Feira Grande. E meu pai dizia que a gente nunca deveria pegar uma manga que tivesse no chão no terreno alheio. Era para pedir aos donos. E assim criei meu cinco filhos ensinando o que é ser um homem de bem. Por isso só paro de trabalhar quando eu não puder sair de casa", finalizou emocionado o  vendedor de amendoim.