Economia

Pandemia e desemprego fazem comércio informal explodir em Arapiraca

Conforme associação, município tem hoje cerca de 700 ambulantes em atividade

Por Cláudio Barbosa, Jânio Barbosa e Patrícia Bastos/ 7Segundos 30/09/2020 12h12
Pandemia e desemprego fazem comércio informal explodir em Arapiraca
Arapiraca tem 530 vendedores ambulantes cadastrados e quase 200 clandestinos segundo Aval - Foto: Jânio Barbosa/ 7Segundos

A pandemia mudou a realidade econômica de milhões de famílias em todo o país. Pessoas perderam o emprego, empreendedores faliram, e quem atuava no mercado informal ficou sem trabalho. O auxílio emergencial concedido pelo governo federal impediu que muitas famílias passassem fome, mas tantas outras tiveram dificuldade em acessar o benefício, cujo futuro ainda é incerto. Esse cenário provocou uma explosão no comércio informal e em Arapiraca não foi diferente.

De acordo com a Associação dos Vendedores Ambulantes Livres (Aval), Arapiraca conta atualmente com cerca de 700 vendedores ambulantes em atividade nas ruas do comércio, somando os que possuem cadastro no município com os que trabalham de forma clandestina. Esse número é cerca de 30% maior que a quantidade de comerciantes informais que atuavam antes da pandemia.

"Houve um grande aumento na procura pela associação", afirma a presidente da Aval, Roberta Leane Rodrigues Serra Negra. "Muitas pessoas que ficaram desempregadas e que não viram outra saída a não ser trabalhar como ambulante procuraram a associação com o objetivo de se legalizar, mas não tinha como fazer o cadastro na prefeitura, então a gente recomendou que essas pessoas trabalhassem mesmo assim porque é uma questão de sobrevivência", ressaltou.





Apesar de o número atual de comerciantes informais parecer ser muito grande e da eterna rixa entre eles e os proprietários de estabelecimentos comerciais - que costumam alegar que são prejudicados pelos vendedores ambulantes - Roberta Leane afirma que, com organização, há espaço para todo mundo. Segundo ela, além de o Centro de Arapiraca ser amplo, não se pode simplesmente virar as costas para homens e mulheres que buscam de maneira honesta sustentar suas famílias.

"Ninguém vai para a rua, passar o dia inteiro debaixo do sol quente vendendo banana, ou alguma outra coisa, simplesmente porque acha bonito. Só faz isso quem realmente precisa. Por isso, lutamos, brigamos, fizemos manifestação nas ruas. O poder público precisa dar assistência a essas pessoas que querem trabalhar de maneira honesta e legalizada. Nós temos um Centro amplo, então vamos distribuir esses trabalhadores", declarou.

A vendedora ambulante Rafaela Bispo, 31, repete a afirmação de que 'ninguém trabalha na rua porque quer'. Depois de passar vários anos no comércio informal, ela tinha conseguido recursos suficientes para alugar um pequeno ponto de vendas, que era o seu sonho, mas se viu obrigada a voltar a trabalhar na rua.

"Com o comércio fechado não tinha como vender e, por conta disso, eu não fiquei sem condições de pagar o aluguel e tive que entregar o ponto. Foi o jeito voltar a trabalhar na rua como ambulante", relata.





A mulher conseguiu o beneficio do auxílio emergencial, que foi responsável pelo sustento dela e dos filhos no período da pandemia, uma vez que mesmo voltando a trabalhar nas ruas e com um produto que passou a ter uma demanda grande na pandemia, o que sobrava era pouco.

"O auxílio ajudou muito. Tenho filhos e foi esse dinheiro que ajudou a gente a se manter nesse período. Agora, o que a gente espera é uma melhoria nas vendas, principalmente porque está se aproximando o fim do ano", disse.

Dificuldades nas ruas


Apesar de o comércio informal ser a única opção para muitos desempregados durante a pandemia, isso não significa que foi uma alternativa viável. Com o movimento reduzido do comércio e as constantes fiscalizações, os vendedores ambulantes pouco conseguiram vender.

"As dificuldades para os ambulantes foram muito grandes e nem falo em relação ao pagamento de contas porque isso nem é prioridade para pessoas que lutam para não deixar faltar alimento para a família. Nós da associação ajudamos como pudemos e muitos parceiros nossos também ajudaram. Quem trabalha como ambulante não tem uma reserva para se manter um período sem trabalhar, geralmente vai pra rua trabalhar de dia para de noite levar alimento para os filhos, então, nesse período o foco é sobreviver", declarou.

Por conta disso, segundo ela, a Aval não reprime os ambulantes clandestinos e busca a regularização deles junto ao município. Atualmente, Arapiraca possui 530 ambulantes cadastrados e perto de 200 que atuam de maneira considerada clandestina. Ela defende que o município deve cadastrar todos eles e distribui-los de maneira que não prejudique outros ambulantes e nem a mobilidade urbana.

Enquanto isso, os vendedores ambulantes seguem nas ruas, agora com mais esperança da situação melhorar, com o avanço de fase na retomada econômica. "Foi muito difícil passar pelo período, o auxílio emergencial foi a salvação, e felizmente as coisas estão voltando ao normal e devagarzinho está dando para a gente sobreviver", declarou Lidiane de Souza, 24.





A jovem afirma que foi a falta de oportunidade de emprego formal que a levou a trabalhar como vendedora ambulante. "O que importa é ganhar o pão de cada dia e com o comércio fechado estava muito difícil para a gente", desabafou.

Para Janielson Alves da Silva, 39, que desde os 23 anos trabalha nas ruas de Arapiraca, assim como a esposa, mesmo com dificuldade a família conseguiu atravessar a pior fase da pandemia sem contrair dívidas. "Arranjaram para eu trabalhar em frente a um banco e por isso deu para levar a vida, mas agora com o comércio aberto com certeza melhorou. Minha esposa tirou o auxílio emergencial, que já veio com o Bolsa Família, que deu para ela pagar as dívidas que ela tinha e hoje, graças a Deus, está tudo em dia. Não devemos mais nada", ressaltou.