Saúde

Funcionários voltam a denunciar atrasos de salários no Memorial Djacy Barbosa

Alguns trabalhadores chegam a acumular cinco meses de salários atrasados

Por 7Segundos 16/09/2020 12h12 - Atualizado em 16/09/2020 15h03
Funcionários voltam a denunciar atrasos de salários no Memorial Djacy Barbosa
Hospital Memorial Djacy Barbosa - Foto: Ewerton Silva (7 Segundos)

Após meses atuando na linha de frente no atendimento de pacientes de Covid-19, enfrentando precariedades e o medo de serem contaminados, profissionais da saúde do Memorial Djacy Barbosa foram colocados de férias sem receber remuneração. Alguns deles chegam a somar até mesmo seis meses de salários atrasados.

"A gente continuava trabalhando pelo simples fato de que não podíamos abandonar os pacientes. Pelo amor que nós temos pela nossa profissão e por saber a importância para a vida dessas pessoas. Era desmotivante sair de casa para trabalhar com três, quatro meses de salários atrasados, mas quando chegava no hospital a gente dava o nosso melhor, mesmo com todas as dificuldades", afirmou um funcionário, que entrou em contato com o 7Segundos e pediu para não ter o nome revelado. Ele afirma acreditar que terá ainda mais dificuldade em receber os salários atrasados caso a direção saiba que foi ele quem denunciou a situação. "É muita perseguição lá dentro", justifica.

De acordo com ele, muitos funcionários não receberam os salários de dezembro do ano passado e dos meses fevereiro e março deste ano. Quando passaram a trabalhar com pacientes de Covid-19, após os leitos do hospital serem habilitados pelo Estado, eles esperavam pelo menos que a partir daquele período o hospital passasse a efetuar os pagamentos com regularidade, mas isso não aconteceu.

"A direção do hospital tentava enganar a gente dizendo que não tinha recebido o recurso do Estado, mas o portal da transparência mostra o contrário. Nos três meses que funcionou atendendo pacientes de Covid, o hospital recebeu mais de R$ 3,5 milhões, como qualquer pessoa pode consultar no Portal da Transparência. E ninguém sabe onde esse dinheiro foi parar porque muitas vezes faltavam EPIs para a gente trabalhar, faltava medicação e até alimentação para os pacientes faltou. Tenho certeza que o Estado enxergou esses problemas e por isso o hospital voltou a fechar. Só que de portas fechadas, ninguém sabe quando a gente vai receber os salários. A direção não dá qualquer satisfação sobre isso", declarou.

Segundo ele, o Ministério Público do Trabalho já havia recebido denúncia a respeito dos atrasos salariais referentes aos meses de dezembro, fevereiro e março, mas não sabe se o órgão foi informado sobre a reincidência do problema. "Em cada um dos meses que trabalhamos para atender os pacientes da pandemia, o Estado repassou em torno de R$ 1,2 milhão. Está lá no Portal da Transparência. Os outros hospitais também receberam repasses do Estado e pagaram os trabalhadores. Não tem justificativa o que estão fazendo com a gente", ressaltou

O Memorial Djacy Barbosa fechou as portas no mês de março, um pouco antes da pandemia, devido a uma interdição ética imposta pelo Conselho Regional de Medicina de Alagoas (Cremal)
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em decorrência da problemas na estrutura física, falta de equipamentos e até mesmo de denúncia de que houveram plantões sem a presença de médico responsável. Na época, as reclamações dos trabalhadores em relação ao atraso no pagamento dos salários já era recorrente. Mas cerca de um mês depois, devido a necessidade de aumentar o número de leitos para atender pacientes com Covid-19 em Arapiraca, o Estado decidiu habilitar os leitos do Hospital Djacy Barbosa. Dentro de pouco tempo, os problemas voltaram a aparecer.

Os trabalhadores da saúde denunciaram escassez de equipamentos de proteção individual e pouco depois voltaram a reclamar dos salários atrasados. Enquanto isso, os pacientes e os parentes perceberam que remédios e insumos estavam em falta e surgiram reclamações até mesmo em relação a alimentação, que em algumas ocasiões eram servidas com horas de atraso.

Os problemas chegaram ao conhecimento do governo estadual e, no começo de junho, o secretário estadual de Saúde, Alexandre Ayres, chegou a admitir que os leitos seriam desabilitados casos os requisitos pactuados com o hospital não fossem cumpridos.
Segundo o funcionário que entrou em contato com o 7Segundos, com a abertura de leitos Covid-19 na Casa de Saúde Nossa Senhora de Fátima, o Memorial Djacy Barbosa passou a receber cada vez menos pacientes regulados pelo Estado até que no final de agosto não restou mais nenhum e as portas do hospital foram novamente fechadas.

"Todos que trabalham foram colocados de férias, mas sem receber remuneração nenhuma", ressaltou.