Comportamento

Flexibilização, isolamento social e ansiedade: psicóloga dá dicas de como manter a saúde mental

O 7Segundos entrevistou a psicóloga Kathiusia Correia

Por Taísa Bibi 16/08/2020 11h11 - Atualizado em 16/08/2020 11h11
Flexibilização, isolamento social e ansiedade: psicóloga dá dicas de como manter a saúde mental
Retomada da economia diante da flexibilização das medidas de isolamento social - Foto: Getty Images

O novo normal chegou, aos poucos todos os setores da economia estão reabrindo, e as pessoas estão voltando a sair de casa. Alguns parecem viver como se nada tivesse acontecido, confundindo flexibilização com o fim da pandemia, para outros, o medo e a ansiedade aumentam por não saberem lidar com seus sentimentos em relação as suas atitudes, e principalmente em relação as atitudes dos outros, no que se refere ao não cumprimento dos protocolos sanitários. Para ajudar as pessoas a lidarem com comportamentos e ansiedades proveniente da pandemia da Covid-19, o 7Segundos entrevistou a psicóloga Kathiusia Correia.

Após quatro meses de isolamento, começaram as flexibilizações, e muitas pessoas não estão sabendo lidar com essas mudanças de rotina, de acordo com a psicóloga, essa é a segunda quebra de rotina em meio à pandemia. “A gente teve uma quebra de rotina quando começou a pandemia, estávamos vivendo a vida normal e tranquila, cada um fazendo suas coisas, sem nenhum receio de sair na rua, podendo estar em aglomerações, de repente tudo mudou, e assim tivemos a primeira quebra pesada”.

De acordo com a psicóloga, a primeira foi mais brusca, mas essa segunda, pode e deve ser feita de forma gradativa. “Agora estamos sofrendo uma outra quebra que a volta, porém a mudança é uma quebra mais suave, porque estamos gradativamente voltando ao que estão chamado de novo normal, então a gente tem mais possibilidades de conseguir nos adaptarmos melhor quando a mudança é gradativa, do que brusca, do nada, como aconteceu no início da pandemia”.

Kathiusua destaca que muitas pessoas tiveram crises fortíssimas de ansiedade, pela impossibilidade de fazer atividades, e que agora está sendo possível retomar a rotina de forma gradual. “Nessa nova configuração de rotina a gente tem mais espaço para se preparar, do que quando a gente teve quando entrou em pandemia, assim as situações de ansiedade acabam conseguindo ser mais controladas, porque a pessoa consegue se preparar, analisar, saber como estão sendo as medidas sanitárias, e assim consegue sair de casa com mais tranquilidade. Porém é sim uma quebra, mas não tão brusca”.

Ansiedade


A especialista alerta que o controle da ansiedade tem haver com a forma que cada um enxerga as situações. “A ansiedade é mais uma questão de se adaptar a nova realidade, porque a flexibilização traz um medo, e a maneira como cada um varia o seu comportamento é crucial. A pessoa deve ter um comportamento de não enxergar a coisa de um único ponto de vista, e sim de tentar fazer as coisas de maneira diferente, que é o que o momento pede, que a gente não fique preso a realizar determinadas coisas de uma única forma, mas pensando de vários pontos de vista”.

“Quanto mais eu sou flexível, menos ansioso eu fico, quanto mais eu vario o meu comportamento, menos eu tenho a tendência de ficar ansioso, e aí eu consigo enfrentar situações difíceis como essa, mas não significa fazer sem responsabilidade, significa fazer o que precisa ser feito com cuidado”, orienta Kathiusia.

Menos precauções


De acordo com Kathiusia um ponto negativo da flexibilização é que agora algumas pessoas podem estar saindo de casa com menos precauções. “Isso é um grande gerador de ansiedade para aqueles que se preservam corretamente, por começarem a imaginar a exposição aos espaços com pessoas que não estão tomando tanto cuidado, e a considerar isso um perigo para sua sobrevivência”.

“Infelizmente é uma condição que deve ser enfrentada em casos de necessidade. A pessoa que não tem alguém para fazer compras para ela, por exemplo, terá que se expor a condição de ir ao supermercado. Porém, a dica aqui é a seguinte: assegure-se de que você está tomando todos os cuidados, quando sai e ao retornar a sua casa, e pense que aquilo que pode ser feito diante da situação, por você, está sendo feito”, complementa.

Confundindo flexibilizarão com fim da pandemia


Para algumas a pandemia parece não existir, e usam as redes sociais para mostrar que estão levando uma vida normal. Alguns com estratégias de postagem com o símbolo #tbt indicando que seria uma foto antiga, mesmo sem ser, e outras postando sem nenhuma preocupação. Essas essas cenas expostas são motivo de ansiedade para outras pessoas.

“O que eu indico sempre para os pacientes é que temos que ficar atento as coisas que podemos gerenciar, não adianta muito que a gente fique observando as pessoas que estão fazendo isso, porque isso só vai aumentar a nossa ansiedade, e nada poderemos fazer sobre isso. As coisas que forem funcionais valem a pena, como denunciar uma festa na vizinhança, por exemplo, se for alguém flexível você pode tentar conversar com a pessoa, vamos devemos agir até onde é o nosso limite, para mantermos a nossa saúde mental”, explica a especialista.

A psicóloga diz ainda que o nosso limite é onde chega o limite do outro, e que tem coisa que não é possível mudar. “Se a outra pessoa está postando foto, se expondo ao vírus, e também expondo a família, e se, infelizmente, estamos nos sentindo ansiosos com isso, devemos saber recuar, tentar conversar com quem está aberto, continuar fazendo uma campanha para que as pessoas se conscientizem, mas se ver as pessoas fazendo algo que está deixando você mal, meu conselho é: não se aproxime dessas atitudes com intuito de querer mudar algo que não está sob o seu controle, porque não conseguimos mudar, e ficamos com aquela raiva e isso não faz bem, e o que podemos fazer é nos preservar e preservar os que estão próximos”.

Para Kathiusia quem não se previne na pandemia está assumindo riscos futuros. “Quem está saindo por livre e espontânea vontade está assumindo a responsabilidade de adoecer, de ter uma complicação mais grave, a gente sabe que o vírus não apresenta um padrão tão claro, de quem vai ficar doente de forma grave ou não. Então essas pessoas estão no mínimo assumindo o risco de um remorso futuro, de levar o vírus para alguém mais próximo, como um familiar, e depois elas terão que assumir as consequências de enfrentar de forma irresponsável essa pandemia, abrindo o perigo pra ela mesma”.

“Temos que torcer que a atitude dessas pessoas não venham a intervir na nossa vida, sabendo nós que isso pode sim interferi, por ser uma maneira de proliferar o vírus, mas é muito importante que a gente encontre esse limite, se isso não faz bem, se tira meu sono, volta ao pensamento de que estou fazendo tudo que posso, não devemos focar que vamos adoecer, e também temos que estamos adotando as medidas de proteção e fazendo o que está no meu controle”, finaliza.