A despedida de Dom Valério Breda, bispo da diocese de Penedo, é carregada pela emoção de todos os religiosos e fiéis que tiveram convívio com ele e também pelos católicos que puderam aprofundar a sua fé com suas sábias palavras e com as paróquias e áreas pastorais criadas por ele em toda região que compreende a diocese de Penedo. Por conta da pandemia, o religioso não pôde ter um grande funeral, mas a passagem do cortejo por Arapiraca, na tarde desta terça-feira (16), emocionou muitos fiéis, que ocuparam as calçadas ao longo do trajeto feito pela cidade.

“Dom Valério teve uma trajetória muito bonita. Muito jovem , ele deixou a terra onde nasceu e toda a sua família para trás e veio para o Brasil sozinho, como missionário salesiano, levando a Palavra principalmente para a juventude. Essa coragem é um exemplo para todos nós. A proximidade dele com o povo e o conhecimento profundo da Palavra sempre foram admirados por todos. As suas pregações sempre eram um pouco longas porque ele fazia questão de compartilhar seus conhecimentos e sua sabedoria. O bispo Dom Valério deixa um legado muito importante para todos os religiosos e para o povo”, afirma o padre Antônio Lopes Fonseca, pároco da igreja de São José, em Arapiraca, e membro do Conselho Presbiterial.

Dom Valério Breda sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) no dia 15 de abril. Ele estava na residência episcopal, em Penedo, quando foi encontrado desacordado e foi socorrido por funcionários. Ele recebeu os primeiros socorros e foi encaminhado para o Hospital Arthur Ramos, em Maceió. Ele teve uma melhora no quadro de saúde e chegou a passar alguns dias na enfermaria do hospital, mas depois precisou retornar à UTI em decorrência de alteração na pressão arterial e desconforto respiratório. Os boletins médicos do bispo eram divulgados com regularidade pela diocese de Penedo e, nos últimos, relatava que o bispo tinha sofrido uma grave reação alérgica, que provocou quadro de insuficiência renal e que, por conta disso, ele estava fazendo hemodiálise.

'Estou ótimo'

O vigário geral da diocese de Penedo, padre Daniel Nascimento, era uma das pessoas mais próximas do bispo, que nos dias anteriores ao AVC tinha demonstrado grande preocupação com parentes que vivem na Itália, em decorrência da pandemia de Covid-19, e estava abatido pela morte do arcebispo emérito da Paraíba, dom Aldo Pagotto, que era seu amigo pessoal. Padre Daniel acompanhou o bispo na internação e relatou que durante a maior parte desse período, Dom Valério estava consciente e confiante na sua recuperação.

“As últimas palavras que ele disse foram: ‘estou ótimo, está é a vontade de Deus’, usando esta expressão exata, antes de ser intubado pela segunda vez. Todo o período anterior a essa segunda intubação ele estava consciente e se comunicava comigo. Ele sempre repetia, com muita serenidade, que o que fosse da vontade de Deus estava bom para ele”, afirmou.

O bispo de Penedo nasceu em San Fior, Itália, em 24 de janeiro de 1945, e tinha 45 anos de vida sacerdotal, 22 delas dedicadas à Diocese de Penedo, onde seguia o lema ‘Caritas Christi Urget” - O amor de Cristo pede, em tradução do latim. No mês em que completou 75 anos de idade, encaminhou a carta de renúncia, para que seu sucessor fosse escolhido e ele se tornasse bispo emérito. Antes da morte dele, não havia uma definição do Vaticano quanto ao novo bispo de Penedo. 

A morte de Dom Valério gerou reações no meio político. A Assembleia Legislativa do Estado fez um minuto de silêncio; o prefeito de Arapiraca, Rogério Teófilo, que havia homenageado o religioso com a comenda Manoel André, emitiu uma nota de pesar; e o prefeito de Penedo, Marcius Beltrão, decretou luto oficial por sete dias “considerando o luto que se abate todo o povo desta cidade e especialmente sobre a comunidade católica alagoana”.

Legado em Arapiraca

O falecimento do religioso também é muito sentido em Arapiraca. Antes dele, havia apenas quatro paróquias no município e Dom Valério foi responsável pela criação de outras  paróquias: Nossa Senhora do Carmo, no bairro Jardim de Maria; Santíssimo Redentor, no Eldorado; Nossa Senhora da Conceição, no Planalto; Santa Isabel da Hungria, na Canafístula; Santo Antônio, no Canaã; Nossa Senhora das Graças, no Cavaco; e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na Bananeiras; e ainda as áreas pastorais de Santa Tereza de Calcutá, no bairro Arnon de Melo, e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no povoado Pau d’Arco. 

O bispo foi responsável também pela criação do Santuário da Santa Cruz, no Morro Santo da Massaranduba, em 2018, um marco religioso em Arapiraca. 

Todos esses serviços, de acordo com o padre Antônio Lopes, demonstram que o bispo Dom Valério Breda tinha um carinho especial por Arapiraca. “Ele sempre manifestou grande estima por Arapiraca, sempre esteve muito presente e tinha muita proximidade com o povo. Ele se sentia muito à vontade aqui em Arapiraca”, ressaltou.

Para a vereadora Gilvânia Barros, que sempre esteve presente nas celebrações presididas pelo bispo em Arapiraca, também frisou o carinho que o religioso demonstrou pela cidade. “Dom Valério sempre teve um olhar muito afetuoso, de pastor e de pai de Arapiraca. Ele foi o grande pastor, mediador do fortalecimento da fé do nosso povo, com a criação de sete paróquias, duas áreas pastorais e do Santuário da Santa Cruz, que é um marco da fé na nossa cidade. Em Arapiraca ele se sentia tão em casa, que chegou a falar para pessoas próximas que quando se tornasse bispo emérito, pensava em se estabelecer na nossa cidade”, declarou.

Sepultamento

O corpo de Dom Valério saiu de Maceió no início da tarde e, ao chegar em Arapiraca, foi colocado no carro do Corpo de Bombeiros e percorreu a avenida Ceci Cunha, rua Nossa Senhora de Fátima em direção ao centro e passou em frente à concatedral de Nossa Senhora do Bom Conselho, e de lá seguiu para Penedo, numa carreata acompanhada por padres da região. A chegada na catedral está prevista para as 16h, onde será celebrada missa de corpo presente, presidida por Dom Jackson, presidente nacional NE2 da Confederação dos Bispos do Brasil (CNBB). 

Em decorrência da pandemia, a presença na missa será restrita aos religiosos, como o arcebispo de Maceió, Dom Antônio Muniz, padres e diáconos que integram a Diocese de Penedo. A celebração será transmitida pelas redes sociais de várias paróquias e, depois dela, o corpo de Dom Valério será sepultado na catedral, ao lado do túmulo de Dom Constantino. 

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