Polícia

MP é acionado após público denunciar mãe youtuber do canal Bel para meninas

Termo #SalvemBelparaMeninas expôs suposta violência psicológica

Por Correio Brasiliense 22/05/2020 11h11
MP é acionado após público denunciar mãe youtuber do canal Bel para meninas
Fran (centro) com as filhas Nina e Bel (dir), em canal oficial que exibe fotos da família de youtubers - Foto: Reprodução Instagram

 

Mãe e filha brincam com uma mistura escura caseira quando a mãe pede para a criança lamber. Trata-se de bacalhau com leite. "Mãe, eu vou passar mal", diz a menina, que encontra insistência da genitora diante das câmeras e cede. Lambe a colher, faz careta, é surpreendida por um banho da substância derramada sobre sua cabeça e acaba vomitando brevemente. Tudo isso para uma audiência de 50 milhões de visualizações mensais no canal Bel para meninas.

Nos últimos dias, internautas, influenciadores e "internautas-investigadores" usaram esses e outros vídeos para colocar em evidência a tag #SalvemBelparaMeninas, denunciando um suposto comportamento abusivo da youtuber Francinete Peres, conhecida como Fran, que aparece sempre ao lado da filha, Isabel Magdalena, a Bel, de 13 anos, em vídeos produzidos em casa, desde 2013. Em algumas postagens, a mulher aparece aborrecida com a resistância da menina em embarcar no que está sendo proposto, por vezes, constrangida, em situações do cotidiano.

O assunto mobilizou a atenção de milhares de pessoas e de conselhos tutelares do Rio de Janeiro, estado onde a família reside. O órgão está recebendo denúncias de todas as partes do país. Com a pressão de internautas e programas de TV, o caso passou a ser oficialmente verificado pelo setor de defesa dos direitos da criança do município de Maricá.

Entre os denunciantes mais ativos está o grupo Treta das Blogueiras, que compilou cenas de vídeos de diversos anos da interação de mãe e filha e ainda publicou o depoimento de outra influência mirim, conhecida como Vicky Vlog, que narra o suposto encontro de uma amiga com a menina Bel na escola. "Ela foi conversar com a Bel na escola e a resposta da Bel foi que ela não ia poder conversar porque tinha que falar com a mãe antes, porque a mãe tinha que aprovar todo mundo que ela falava", contou, ainda opinando: "O ambiente escolar da Bel deveria ser onde ela podia ser a Bel, não a menina do YouTube (...) a menina vive basicamente pra fazer as vontades da mãe e do público, né?".

De acordo com o conselheiro tutelar à frente da averiguação em Maricá (RJ), Jorge Márcio Freitas Lobo, uma equipe esteve nesta terça-feira (19/5) na residência da família Peres para averiguar denúncia de violência psicológica, ainda sem posse de qualquer vídeo. "A família se mostrou surpresa, mas receptiva; apenas no dia seguinte, recebemos um volume grande de vídeos e outros teores de denúncia e outra equipe foi à residência", conta.

 

Na quarta-feira (20/5), a garota teve indicação de encaminhamento para psicólogos do CREAS local, para escuta ativa, e o Ministério Público do Rio de Janeiro foi notificado para passar a atuar no caso.

 

"Nessa segunda visita, os pais já estavam com argumentos de defesa. Mostramos o que poderia ser entendido de certas imagens e eles seguiram a linha 'fiz e não tive maldade', mas nós explicamos como a exposição está lá, as possíveis infrações ao ECA e o que poderia acontecer, que pode chegar a detenção de seis meses a 2 anos", discorre Freitas Lobo. Segundo o profissional, um colegiado do conselho tutelar foi reunido para discutir o caso, que será acompanhado até a garota atingir a maioridade e pode parar na esfera judicial.