Política

Ramagem e ex-chefe da PF no Rio depõem sobre suposta interferência de Bolsonaro na corporação

Ao todo, STF autorizou 10 novos depoimentos marcados para esta semana

Por G1 11/05/2020 09h09
Ramagem e ex-chefe da PF no Rio depõem sobre suposta interferência de Bolsonaro na corporação
Polícia Federal - Foto: Imagem de Arquivo/Agência Brasil

O diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, e o ex-superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro Ricardo Saadi depõem à PF em Brasília, nesta segunda-feira (11). Eles serão ouvidos no inquérito que apura suposta tentativa de interferência de Jair Bolsonaro na corporação.

O ex-diretor-geral da PF Maurício Valeixo também presta depoimento nesta segunda-feira, mas na superintendência da corporação em Curitiba. A audiência deve ser realizada às 10h.

O inquérito foi aberto pela Procuradoria-Geral da República (PGR), com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF), depois que o ex-ministro da Justiça Sergio Moro pediu demissão do cargo, no fim de abril. Ele disse ter sido pressionado por Bolsonaro a fazer mudanças na cúpula da Polícia Federal.

Ramagem e Saadi, ambos delegados da Polícia Federal, foram citados por Moro em um depoimento de oito horas prestado no último dia 2, em Curitiba. O mesmo aconteceu com o ex-diretor-geral da PF Maurício Valeixo, que será ouvido na manhã desta segunda, também na capital paranaense.

Ao todo, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello autorizou a tomada de 10 depoimentos no inquérito – todos, marcados para esta semana e relacionados às afirmações de Moro.

Relembre o caso

A suposta interferência de Bolsonaro veio à tona em 24 de abril, quando Maurício Valeixo foi exonerado da direção-geral da PF. Para a vaga, foi nomeado o diretor da Abin – e amigo da família Bolsonaro – Alexandre Ramagem.

Horas depois, Moro anunciou sua demissão do ministério, declarou que não via motivo razoável para a troca e disse que vinha sofrendo pressões para mudar outros diretores da corporação. Entre eles, o então superintendente da PF no Rio, Ricardo Saadi.

A substituição de Valeixo foi levada ao Supremo Tribunal Federal pelo PDT, e o ministro Alexandre de Moraes decidiu suspender a nomeação de Alexandre Ramagem por verificar indícios de "desvio de finalidade". Com isso, Ramagem voltou para a Abin e o governo nomeou Rolando Alexandre de Souza para o comando da PF.

Mais depoimentos

Além de Valeixo, Saadi e Ramagem, também serão ouvidos pela Polícia Federal:

  • ministros de Jair Bolsonaro: Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Braga Netto (Casa Civil). Serão ouvidos nesta terça-feira (12), no Palácio do Planalto, às 15h;
  • deputada federal: Carla Zambelli (PSL-SP) deve ser ouvida nesta terça, às 15h, na sede da PF em Brasília;
  • delegados da PF: Carlos Henrique de Oliveira Souza (ex-superintendente no Rio de Janeiro), Alexandre da Silva Saraiva (ex-superintendente no Amazonas) e Rodrigo de Melo Teixeira (ex-superintendente em Minas Gerais). Souza e Saraiva devem ser ouvidos também a partir das 15h, nesta terça, na sede da PF em Brasília. O depoimento de Teixeira está previsto para 15h desta terça, mas o local ainda não foi definido.

Os ministros foram citados por Moro porque estiveram em uma reunião de governo em que, supostamente, Bolsonaro fez cobranças públicas sobre as trocas na PF. O vídeo dessa reunião foi entregue pelo governo ao STF, e está temporariamente sob sigilo.

Em mensagens apresentadas por Moro aos investigadores como prova – e reveladas pelo Jornal Nacional –, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) pede que o então ministro permaneça no cargo e promova as mudanças no comando da PF.

Em troca, segundo os diálogos, Moro poderia pleitear uma vaga no Supremo Tribunal Federal. Em resposta a Carla Zambelli, Moro disse: "Prezada, não estou à venda."

Essas pessoas devem ser ouvidas, segundo o chefe da PGR, sobre "eventual patrocínio, direto ou indireto, de interesses privados do Presidente da República perante o Departamento de Polícia Federal, visando ao provimento de cargos em comissão e a exoneração de seus ocupantes".