Brasil

Homem que atacou enfermeiras trabalha para o Ministério de Direitos Humanos

Bolsonarista cuspiu em enfermeiras que faziam uma manifestação na Praça dos Três Poderes

Por uol 05/05/2020 08h08
Homem que atacou enfermeiras trabalha para o Ministério de Direitos Humanos
Bolsonarista cuspiu em enfermeiras que faziam uma manifestação na Praça dos Três Poderes - Foto: Reprodução/Video

Renan da Silva Sena, funcionário terceirizado do MDH (Ministério da Mulher,da Família e dos Direitos Humanos), agrediu verbalmente e cuspiu em enfermeiras que faziam uma manifestação na Praça dos Três Poderes, em Brasília, na última sexta-feira (1º).

Sena é analista de projetos do setor socioeducativo, mas não aparece nem exerce suas atividades no ministério desde meados de março. Ele foi contratado pela empresa G4F Soluções Corporativas Ltda, que tem um contrato com o MDH no valor de R$ 20 milhões de prestação serviços operacionais e apoio administrativo.

Comandada pela ministra Damares Alves, a pasta afirmou, em resposta ao UOL, que pediu à empresa terceirizada a demissão de Sena e que ela teria sido concretizada em 23 de abril. Porém a reportagem pediu e não recebeu a documentação que provasse o ato demissionário. Verificou-se também que o email funcional dele continuava ativo até o dia de ontem.

O ministério declara ainda "reputar [crer] por inadmissíveis quaisquer atos de violência e agressão, tendo a ressaltar neste sentido uma série de ações de enfrentamento a todos os tipos de violência desenvolvidas no âmbito de suas pastas temáticas."

Sem trabalhar desde março

Na sexta, cerca de 60 enfermeiros homenageavam 55 colegas de profissão mortos por causa da pandemia do novo coronavírus. Vestido de camisa amarela e com uma bandeira nacional, Renan agrediu com xingamentos e empurrões duas enfermeiras que participavam do ato. Ele cuspiu ainda no rosto de uma estudante de medicina que tentou defender as profissionais de saúde.

Engenheiro eletricista de formação e missionário da Igreja Batista Vale do Amanhecer, Renan Sena presta serviço, desde fevereiro, à SNDCA (Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente), que coordena o Sinase (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo), responsável pela execução de medidas destinadas a adolescentes em conflitos com a lei.

Sena é considerado por colegas de trabalho "como uma pessoa de trato difícil e insubordinada", apurou a reportagem.

Desde meados de março até o dia em que agrediu as enfermeiras, ele chegou a alegar que estava doente, não respondeu aos emails de seus superiores no MDH nem executou suas tarefas. Contudo, participou de diversos protestos em que pedia intervenção militar ou que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) cometesse um golpe de Estado, como o ato realizado em Brasília no dia 15 de março.

No dia de 19 de abril, Sena foi visto no ato em que Bolsonaro discursou para manifestantes que pediam o fechamento do Congresso Nacional e do STF (Supremo Tribunal Federal).

Sena participou ainda de protestos em frente à Embaixada da China, país a quem acusa de propagar intencionalmente o coronavírus, e também em frente ao STF, classificado por ele "como vergonha nacional".