Saúde

Se manter produtivo evita brigas em família e estresse durante isolamento, afirma psicóloga

A psicóloga Kathiusia Correia da dicas de como manter a saúde mental nos dias de confinamento

Por Taísa Bibi 28/03/2020 11h11
Se manter produtivo evita brigas em família e estresse durante isolamento, afirma psicóloga
Psicóloga Kathiusia Correia - Foto: Divulgação

Somos seres sociais, dependemos de outros para viver. Com a pandemia de Corornavírus no mundo, vários governantes estão adotando o isolamento social como medida de prevenção à propagação do vírus. Mas como mantermos nossa saúde mental, como seres sociais, se precisamos ficar isolados? O Portal 7 Segundos entrevistou a psicóloga Kathiusia Correia que deu dicas de como passar por esse período.

“Nós somos, por natureza, seres sociais. Significa que estar em constante contato com outras pessoas é uma condição necessária (além de outras) para mantermos nossa saúde mental regulada. Nesse momento em que precisamos ficar isolados fisicamente, é importante pensarmos em alternativas pra que esse afastamento não signifique isolamento de nossas ideias”, explica Kathiusia. 

A especialista diz que a internet é uma forte aliada para nos mantermos em contato com os amigos e também para aprender coisas novas. “A internet é uma alternativa muito eficaz para estarmos em contato com nossos amigos e pessoas da família que estão mais distantes. Também é útil para aprendermos algo novo, por exemplo”.

O importante é não ficar ocioso. “Devemos procurar não ficar tanto tempo ociosos, e usar o momento para tirar do papel ideias já existentes e planejar algo promissor. Parte do processo de mantermos nossa saúde mental regulada, envolve nos sentirmos úteis de alguma maneira, mesmo em um período em que, em tese, não precisaríamos fazer nada”, afirma Kathiusia.

Estresse no isolamento

De acordo com a especialista o estresse pode ser resultado de não estarmos sabendo lidar com o tempo que temos. “Podemos dizer que se a pessoa está muito estressada com o isolamento, ela pode estar usando o próprio tempo de maneira nada produtiva, por exemplo. Tem-se mais tempo para dar vazão a pensamentos ansiosos, o que pode alterar o humor, elevando o estresse”.
 
“Outra causa desse estresse pode ser alguma situação prévia que a pessoa já enfrente. Alguém que já é ansioso, possui algum quadro depressivo ou qualquer outra condição difícil de regular normalmente. Isso pode aumentar significativamente seu estresse durante o período em que o isolamento tem sido ´obrigatório’”, complementa a psicóloga.

Para a especialista só a condição “não pode sair de casa” já provoca o estresse. “Só a condição de ´não poder´ sair de casa pode também causar esse estresse. São inúmeras as causas, e cada pessoa pode apresentar estresse por uma situação particular, mas essas são as mais prováveis”.

Brigas em família

Para a especialista estamos desacostumados a viver em família, por conta da rotina diária, assim a paciência e empatia são primordiais para evitarmos brigas desnecessárias. “A gente está tão desacostumado a viver em família e a exercitar a nossa paciência, que chamamos de habilidades sociais, com as pessoas mais próximas, que quando a agente chega numa situação dessas que somos ‘obrigados’ a estar em casa mais tempo, a gente não sabe como lidar”.

As pessoas precisam estar dispostas a cooperar. “O que eu posso dizer é que se a família já tem discussões, se já existe uma situação difícil, vai ser mais difícil claro regular isso. Mas depende muito da disposição da pessoa, porque por exemplo, se eu estou disposto a não brigar com a minha família, eu consigo ter um pouco mais de paciência, eu consigo observar as coisas a partir do ponto de vista do outro, numa briga, numa discussão, as vezes as pessoas brigam por uma xícara, por exemplo”.

“Mas quando eu não estou disposto, fica muito mais difícil de me colocar no lugar do outro, eu diria que, nesse momento, para ajudar a evitar essas brigas, o ideal é que exercitemos muito a empatia, além de exercitar a paciência devemos exercitar a empatia, então devemos parar para se colocar no lugar do outro, quando começar uma discussão, ou antes de começar, que a gente avalie que a outra pessoa também está passando por essa situação de isolamento, então é importante sempre que for possível, ser mais delicado com as falas e atitudes. Empatia é o principal, e exercitar as habilidades sociais que exigem bastante disposição”, explica Kathiusia.

Dicas para não surtar

Meditação é uma alternativa. “Eu tenho indicado muito para meus pacientes a prática da meditação. Independente da pessoa seguir o estilo de vida budista (que está associado a essa prática) ou não, a meditação trás inúmeros benefícios por meio do exercício da respiração e auto-observação. Alguns exemplos são a melhora do sono, redução da ansiedade e estresse, e maior percepção do próprio corpo”.

Atividade física e tentar manter uma rotina, também são dicas valiosas. “Coisas como atividade física e tentar manter uma rotina com horários minimamente definidos podem nos ajudar a manter a cabeça ocupada, não ficarmos muito aleatórios durante o dia e regular alguns hormônios (principalmente a atividade física, nesse caso)”, completa a especilista.

“Manter contato com as pessoas que amamos também, por meio das alternativas que temos. Aproveitem o tempo para cuidar de vocês!”, reforça Kathiusia.

Dicas para quem já faz terapia e não está tendo atendimento

É possível fazer terapia online. “Para aqueles que for possível, indico que continuem o processo terapêutico a partir da modalidade online, caso o profissional em questão ofereça essa alternativa (o CFP - conselho que regulamenta nossas ações enquanto psicólogos) liberou para que todos psicólogos possam recorrer a essa modalidade nesse momento de pandemia”, explica a psicóloga.

Para quem não pode fazer a terapia de forma online, a especialista tem alternativas.”Para aqueles que não conseguem realizar esse acompanhamento agora, principalmente aqueles dependentes do serviço público, a indicação é que procurem exercitar aquilo que já veem trabalhando em seu tratamento anteriormente. Busquem fontes seguras para se orientar quanto a técnicas de controle de ansiedade que possam utilizar, e conversem com alguém de confiança. Caso se sintam ansiosos ou venham a apresentar alguma crise, procurem profissionais que possam atender em caráter de urgência. Tenho adotado essa alternativa para alguns pacientes, assim como o atendimento online. Mas atenção!! Procurem já ter o contato de um profissional de confiança por precaução”, finaliza.