Saúde

Como o coronavírus é transmitido e por quanto tempo ele resiste por aí

Investigamos com especialistas como se transmite o coronavírus, qual o risco de uma pessoa passar para outras e que medidas ajudam a evitar a disseminação

Por 7Segundos 20/03/2020 09h09
Como o coronavírus é transmitido e por quanto tempo ele resiste por aí
Como o coronavírus é transmitido e por quanto tempo ele resiste por aí - Foto: Ilustração

Gotículas de saliva, espirros, acessos de tosse, contato próximo e superfícies contaminadas… Dá para resumir assim as principais vias de transmissão do novo coronavírus, causador da Covid-19.

Um estudo americano recém-publicado no respeitado periódico médico The New England Journal of Medicine descobriu que o vírus sobrevive por algumas horas em suspensão no ar ou até dias em certas superfícies.

“O que mais chama atenção nesse trabalho é que se observou que o coronavírus resiste por até três horas na forma de aerossol, isto é, se eu estou infectado e espirro numa sala, ele consegue ficar espalhado pelo ar e infectar outra pessoa em quase três horas”, diz o virologista Paulo Eduardo Brandão, professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP).

A investigação também desvendou que o vírus chega a ficar até três dias sobre estruturas ou objetos de plástico ou aço inoxidável. São achados que, segundo Brandão, reforçam a necessidade de duas medidas: isolamento social e higiene das mãos.

Uma pessoa transmite o coronavírus para quantas outras?

Os dados da pandemia estão sendo colhidos, processados e alterados a cada dia, mas tudo leva a crer, por ora, que uma pessoa infectada pelo SARS-Cov-2 (o nome científico do novo coronavírus) pode transmitir o agente infeccioso para outras duas ou três — algumas projeções falam em até seis. “É um número um pouco maior do que o do vírus da gripe“, compara Brandão.

Mas não dá para dizer que o causador da Covid-19 é a maior peste em matéria de transmissão. “No sarampo, uma pessoa chega a transmitir o vírus para outras 16″, aponta o professor da USP. Felizmente, para sarampo e gripe já contamos com vacinas.

Mas o novo coronavírus tem seus trunfos para nos preocupar. O infectologista Celso Granato, do Fleury Medicina em Saúde, lembra que um fenômeno favorável à sua disseminação é que a maioria dos infectados não tem sintomas ou apresenta apenas manifestações mais leves. “É como se fosse um iceberg. No pico ficam os casos graves e na base temos muita gente infectada mas sem apresentar sinais ou necessitar de tratamento”, ilustra.

Outro ponto gera apreensão: o vírus vem se mostrando habilidoso em invadir o corpo humano. “Ele tem grande afinidade por receptores que ficam nas células respiratórias humanas”, diz Brandão. Granato explica que vírus têm espécies de chaves para usar em fechaduras que estão na superfície das nossas células. Pois o coronavírus tem uma proteína (chamada spike) que se conecta num receptor celular conhecido pela sigla ACE-2. É assim que ele entra na casa.

Se a imunidade estiver comprometida, algo mais corriqueiro entre idosos e portadores de doenças crônicas, seu trabalho é evidentemente facilitado. E aí o vírus consegue infectar a célula, se reproduzir ali e dispersar suas cópias para dominar outras células.

“Uma diferença entre o vírus da Covid-19 e os coronavírus da Sars e da Mers é que, enquanto esses dois infectavam mais os pulmões, esse consegue se espalhar melhor no trato respiratório superior [nariz, garganta…]“, conta Granato, que também é professor da Universidade Federal de São Paulo. Esse seria mais um fator que ajuda a entender por que ele tem maior potencial de transmissão.

Já existem evidências de que o novo coronavírus ainda pode ser propagado pelas fezes. “Sabemos, porém, que ele já é bem-sucedido na forma mais fácil de transmissão, a via respiratória”, avalia Granato.

O tempo mais quente reduz o contágio por coronavírus?

Eis uma pergunta que ainda não tem resposta categórica. Os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) demonstram que a pandemia cursa tanto em países com clima mais frio (caso da Itália e da China) como em locais mais quentes, a exemplo de regiões brasileiras e da Austrália.

O que se sabe, pela experiência de epidemias de infecções respiratórias anteriores, caso da própria gripe, é que, na temporada de temperatura baixa, o vírus se aproveita de duas situações: queda na imunidade e aglomeração de pessoas.

“O vírus não gosta nem de frio nem de calor. Ele gosta de hospedeiros”, afirma Brandão. Ou seja, não há nada mais propício a ele do que muita gente por perto. Por isso, no cenário atual, as medidas intensivas de higiene e restrição de circulação e contato social são os pilares mais efetivos para estancar o avanço da doença. “A hora de agir é agora”, reforça Granato.