Saúde

"Se estamos no prazo, não há desacato", alega gestora do hospital sobre interdição do Cremal

Vaneska Barbosa afirma que estão sendo executadas obras para atender exigências

Por 7Segundos 04/03/2020 17h05
'Se estamos no prazo, não há desacato', alega gestora do hospital sobre interdição do Cremal
Hospital Afra Barbosa, em Arapiraca - Foto: Reprodução

A médica Vaneska Barbosa, atual gestora do Memorial Djacy Barbosa - mais conhecido como hospital Afra Barbosa - discorda do presidente do Conselho Regional de Medicina de Alagoas (Cremal), Fernando Pedrosa, a respeito do prazo da interdição ética da unidade hospitalar. Na terça-feira (03), Pedrosa afirmou para o 7Segundos que o hospital está desobedecendo a ordem de interdição, que determina que até o dia 13 de março todos os serviços oferecidos pelo hospital devem ser paralisados e todos os pacientes transferidos.

"Mas se a data definida é dia 13, estamos dentro do prazo. O hospital não está desacatando o Conselho", afirmou Vaneska Barbosa.

A gestora do hospital explica que como a portaria que determinou a interdição ética foi publicada no Diário Oficial no dia 13 de fevereiro, passa a ter validade 30 dias depois. "Hoje o hospital está aberto, funcionando e fazendo adequações em dois setores onde foram apontadas as inconformidades pelo Conselho. Não estamos marcando cirurgias para depois do dia 13 ou nos dias anteriores a esse prazo e, portanto, não há intenção de nossa parte de descumprir a determinação. Me surpreendeu a publicação de ontem (03 de março) porque nós somos o primeiro hospital da cidade. Acho que não é interessante falar sobre fechar um hospital. Pelo contrário, as pessoas deveriam nos dar as mãos e nos ajudar, porque o fechamento de um hospital é ruim para toda a população", declarou.

A médica diz que a primeira notificação encaminhada pelo Cremal sobre as inconformidades encontradas na fiscalização do hospital, em agosto do ano passado, não chegou às mãos dela. Vaneska Barbosa falou que o documento pode ter sido extraviado por um funcionário e que, por conta disso, a gestão só tomou conhecimento sobre o processo em danamento no Conselho após a chegada da segunda notificação, que já estabelecia a interdição ética do hospital.

"No dia 08 de fevereiro, antes mesmo de a portaria ser publicada no Diário Oficial,fiz a solicitação de numa nova visita técnica já apontando o que eu tinha feito e um termo de ajuste de conduta com o resto que precisaria me adequar, com os prazos. Estamos aguardando a nova vistoria, que ela aconteça antes do dia 13 e que o Conselho veja que estamos fazendo as adequações necessárias", disse.  

O Memorial Djacy Barbosa, de acordo com ela, é a unidade hospitalar mais antiga de Arapiraca. Atualmente dispõe de 103 leitos e, além de centro cirúrgico, possui também alas para atendimento de oncologia e de hemodiálise. Nesta quarta-feira (04) há apenas dois leitos na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em funcionamento, que de acordo com Vaneska Barbosa são suficientes para atender emergências de pacientes da oncologia e nefrologia, e a unidade está buscando leitos de UTI de retaguarda em outras unidades hospitalares, procedimento comum, de acordo com ela.

A gestora afirma que 92% dos procedimentos realizados no hospital são através do Sistema Único de Saúde (SUS) e alega que, além da tabela defasada, nem sempre os repasses municipais e estaduais são feitos em dia. "Tem muitas coisas que precisam ser ajustadas, não podemos dizer que não. Mas com o passar dos anos a receita do hospital vem caindo e, mesmo assim, fizemos readequações na oncolodia. Nós precisamos que a Secretaria de Saúde do município ande mais junto do hospital, precisamos da ajuda da Secretadia de Saúde do Estado para manter o hospital de pé com qualidade. Em outubro e novembro do ano passado, conseguimos que a deputada Tereza Nelma e Rodrigo Cunha destinassem emendas para o hospital. O nosso hospital não pode fechar, é ele quem atende o pobre de Arapiraca", ressaltou. 

Segundo o presidente do Conselho Regional de Medicina, Fernando Pedrosa, o processo que levou a interdição ética do Memorial Djacy Barbosa foi iniciado um ano atrás, após uma visita da Direção de Fiscalização do órgão, que constatou várias inconformidades com as normas para o atendimento médico hospitalar. As principais delas são a quantidade de respiradores insuficiente para o número de leitos de UTI e para atender os pacientes da hemodiálise e a quantidade de profissionais de saúde insuficiente para atender a demanda. Quando conversou com o 7Segundos na terça, Pedrosa afirmou que o hospital chegou a passar dias sem ter um médico de plantão presente.

Fernando Pedrosa afirmou que o hospital foi notificado das irregularidades encontradas e foram estabelecidos prazos, que não teriam sido cumpridos. Após uma segunda ação de fiscalização feita pelo órgão, os conselheiros decidiram, em uma sessão plenária, estabelecer interdição ética. O presidente do Cremal confirma ter chegado ao conselho o pedido para a realização de mais uma ação de fiscalização. De acordo com ele, os conselheiros devem se encontrar na próxima semana e marcar uma data.

A médica Vaneska Barbosa declarou que a questão dos respiradores e da quantidade de pessoal já foi solucionada e que estão sendo feitas as adequações necessárias para sanar as demis inconformidades apontadas pelo Conselho. Com isso, ela espera que, com a próxima visita técnica dos conselheiros ao hospital, a interdição ética seja suspensa.

ATRASO NOS SALÁRIOS

Além da interdição ética, o hospital Afra Barbosa também não consegue pagar os salários dos funcionários em dias. Conforme denúncia recebida há algumas semanas, profissionais de vários setores estão com vencimentos de dezembro e de décimo terceiro atrasados e a direção do hospital havia proposto pagar a dívida parcelada em dez parcelas.

Sobre o problema, a gestora do hospital afirmou que o assunto está sendo tratado ao Ministério do Trabalho. "Ontem mesmo tive uma audiência no Ministério do Trabalho para tratar do assunto. São muitos problemas. Agora não é hora para falar em fechar o primeiro hospital de Arapiraca, o hospital que atende o pobre. É hora de todos darmos as mãos para evitar que isso possa acontecer", justificou.