Economia

Após boom uma década atrás, mercado de flores tropicais segue cambaleante

Cooperativa que chegou a exportar para Europa se desfez e restam poucos produtores em AL

Por Patrícia Bastos. Com imagens e vídeos de João Henrique/ 7Segundos 09/11/2019 07h07
Após boom uma década atrás, mercado de flores tropicais segue cambaleante
Após boom uma década atrás, mercado de flores tropicais segue cambaleante - Foto: João Henrique /7Segundos

Doze anos atrás, o mercado de flores tropicais era considerado o grande negócio da agricultura em Alagoas. As plantas estavam presentes em muitos dos eventos em outros Estados brasileiros e também no exterior e se destacavam por sua exuberância e durabilidade, se comparadas aos arranjos de flores tradicionais. Hoje, apesar das folhagens e flores continuarem encantando em cerimônias, festas e estabelecimentos, já não tem mais o mesmo mercado de antes.

Enquanto nos anos 2000, mais de 30 agricultores que se dedicavam ao cultivo de flores tropicais se reúnia na cooperativa ComFlora, que exportava carregamentos regulares para Holanda, França, Suíça e outros países da Europa; hoje, quase tudo que é produzido em Alagoas não sai do Estado, de acordo com a empresária Jussara Moreira, que foi uma das fundadoras da cooperativa.

"Cultivando de maneira profissional mesmo, creio que atualmente temos cinco produtores de flores tropicais em Alagoas, talvez um pouco mais, claro que excetuando aqueles que produzem pequenas quantidades no quintal de casa. Hoje, praticamente toda produção permanece em Alagoas mesmo, apenas uma pequena parte vai para a região Sudeste e Sul. A verdade é que o frete é muito caro, o que onera o preço final e impede que as nossas flores e folhagens concorram com as flores produzidas lá", afirma a empresária, explicando que não está falando em nome de um grupo. "O que eu falo, são as minhas impressões pessoais, não existe mais grupo de produtores", lamenta.

                                                                         

Durante o boom das flores tropicais, entre o final da década de 1990 e durante todo os anos 2000, o Brasil passava por uma fase de aquecimento na economia e o mercado de decoração crescia. Nesse contexto, as flores tropicais, além de sua característica exótica apresentava um bom custo-benefício, em decorrência de sua durabilidade. Enquanto os arranjos de flores tradicionais duravam poucos dias, os de flores tropicais permaneciam bonitos por mais de duas semanas. 

Nessa época, os produtores alagoanos contavam com o auxílio do Sebrae, por meio de um projeto, que possibilitou condições para exportar a produção. Em 2005, um carregamento de 256 quilos de flores e folhagens foi exportada para Cabo Verde e, nos anos seguintes, Alagoas chegou a exportar cerca de 40 mil hastes por mês. Mas quando a crise econômica passou a atingir vários países da Europa e também o Brasil, a demanda internacional deixou de existir e a nacional também reduziu consideravelmente.

Mas, de acordo com Jussara Moreira, esse não foi o único fator que levou a decadência do setor. "Para exportar, o agricultor tinha que produzir flores e folhagens padrão AA, e para isso tinha que se dedicar: fazer todos os tratos culturais, adubar, irrigar, todos os cuidados na colheita e pós-colheita, e todas essas etapas cumpridas manualmente, esse trabalho todo fez com que muitos desistissem", explicou.

Muitos dos agricultores, então se voltaram para o mercado local, que não era tão exigente, mas que também não valorizava as flores e folhagens tropicais como lá fora, aliado ao fato de que boa parte dos produtores era constituída de idosos, que foram deixando o ramo paulatinamente.

"Enquanto cooperativa, fizemos um esforço para nos voltar para o mercado nacional. Mas era necessário abrir e se manter nesse mercado, o que não é fácil, porque demanda um investimento cujo  retorno só acontece lá na frente. Nós é que corríamos atrás do frete, buscávamos facilitar a logística, mas sem apoio dos governos do Estado e dos municípios, isso não foi possível. Tanto que as exportações eram feitas via Pernambuco. Não houve apoio técnico e nem de logística, de nenhuma forma. A única entidade que nos deu a mão foi o Sebrae, mas o projeto teve fim", ressaltou.

Em Arapiraca, uma produtora de flores e folhagens tropicais resiste, mesmo com todas as dificuldades de mercado. Ana Maria Berto vende as flores e folhagens em sua propriedade rural, no povoado Lagoa Seca, e, apesar das dificuldades, não reclama da decadência do setor. "Todo comércio é assim: tem seus altos e baixos. Hoje continuo vendendo minhas flores e folhagens e não tenho do que reclamar", afirmou.

Além dela, também é possível encontrar na região, que fica próxima ao município de São Sebastião, outros produtores rurais que, além das culturas de subsistência também cultivam plantas ornamentais e, entre elas, as flores tropicais, como é o caso de Rita Nascimento da Silva, 65, que cultiva as plantas em sua propriedade, no povoado Nascença, zona rural de São Sebastião e, além de vender na própria casa, passou também a levar as plantas para a feira no município.

"Trabalhar com flores, com plantas, é diferente da lida na roça de feijão. Flor é vida, faz curar um sentimento que está doendo na gente. Flor é tudo", pondera.