Política

Célia Rocha se despede da vida pública "feliz" e com a sensação de dever cumprido

Ex-prefeita admite ter cometido erros de estratégia e afirma que, apesar de “aposentadoria”, deverá apoiar candidatura em 2020

Por 7Segundos 29/10/2019 06h06
Célia Rocha se despede da vida pública 'feliz' e com a sensação de dever cumprido
Célia Rocha - Foto: arquivo

Nas rodas de conversa sobre política de Arapiraca, nos últimos 30 anos, Célia Rocha sempre é mencionada como um nome forte e agregador de votos na cidade. Mas a médica, que estreou na política em 1988 e fez história como a primeira mulher a presidir o Executivo municipal e também a única pessoa a vencer três eleições para a prefeitura de Arapiraca, confirma com todas as letras que está aposentada da vida pública. 

Apesar de já ter afirmado isso alguns anos atrás, desta vez a resposta vem após a primeira e única derrota nas urnas, na eleição para Assembleia Legislativa Estadual em 2018. Na série de reportagens especiais sobre os 95 anos de emancipação política de Arapiraca, trazemos nesta terça-feira (29), uma matéria com a política que muito contribuiu para Arapiraca ser o que ela é hoje e que, mesmo após se despedir da vida pública, não descarta subir novamente em palanques, mas para defender a candidatura de amigos que acredita ter a contribuir para o futuro do município. 

Em uma entrevista para o 7Segundos, Célia Rocha respondeu - por escrito - com franqueza sobre os erros e acertos na sua trajetória política. “Não vou concorrer a nenhum cargo público. A população já me deu a resposta”, afirmou, se referindo à derrota nas urnas no ano passado, que ela atribui a um “erro de leitura” sobre o que a população esperava dela.

“Neste momento, a leitura que faço é que este ciclo de vida pública fechou para mim. E eu estou muito bem e feliz. Evidentemente, amo meu povo e minha cidade e não vou deixar de apoiar amigos com os quais participei nas últimas eleições e nos quais acredito. Mas vamos aguardar os acontecimentos”, declarou.

                                                   

Célia Rocha completa nesta terça, 67 anos, quase metade deles dedicado à política e a Arapiraca. Graduada em Medicina, passou a exercer o ofício em Arapiraca no início da década de 1980, mas o carisma e o entusiasmo profissional logo a colocaram no caminho da política. Foi eleita vereadora pela primeira vez em 1988 e, no segundo mandato, em 1992, chegou à presidência da Câmara de Vereadores. Nesse período, chegou também a exercer o cargo de secretária municipal de Saúde, que teria sido um divisor de águas em sua carreira política. A atuação dela também serviu de estalo para o grupo político do qual ela fazia parte: Célia Rocha já estava pronta para ser prefeita de Arapiraca.

“Com certeza foi um momento muito especial. A implantação do SUDS [Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde], com a ajuda do Ubiratan Pedrosa e do Fernando Collor de Mello [que na época era governador], foi a mais maravilhosa experiência vivida por nós que fazíamos parte da pequena Secretaria Municipal e Saúde. Foi um período que ficou no coração de muitos, devido aos avanços em todos os sentidos”, relembra Célia.

Aquela foi a época em que ela gozou de maior popularidade em sua carreira política, que a levaram à vitória nas urnas para a prefeitura de Arapiraca em 1996 e em 2000. Célia também concorda que de toda a sua carreira política, aqueles oito anos à frente do município foram os melhores, ou “fantásticos”, nas suas próprias palavras.

“Levar água para as torneiras de toda a zona urbana e quase toda zona rural foi emocionante”, afirmou. A política cita também Geraldo Cajueiro, que foi seu vice-prefeito, e Ceci Cunha, amiga desde a época em que atuaram juntas na Câmara de Arapiraca. “Eles ficavam emocionados com os depoimentos da população. O arapiraquense sempre teve orgulho de sua cidade. Eu tenho um orgulho maior ainda, de ter sido prefeita da cidade que amo”, reitera. 

                                                     

Após o segundo mandato à frente da prefeitura, Célia Rocha deu uma pausa, embora nunca tenha se afastado da política de fato. Em 2004 e em 2008 apoiou Luciano Barbosa, que venceu as eleições.  Nessa trajetória política, ela admite que o único erro aconteceu quando se lançou candidata a deputada federal, em 2010. Mesmo assim, voltou a ser eleita prefeita de Arapiraca em 2012, com uma diferença de 5.754 votos do segundo colocado, Rogério Teófilo. Ao fim desse mandato, por estar em tratamento médico em São Paulo, ela não se envolveu em campanhas políticas. 

Em 2018, quando se candidatou a uma vaga na Assembleia Legislativa, chegou a contar com o apoio de seu antigo adversário político, Rogério Teófilo, mas os 17 mil votos obtidos não foram suficientes para elegê-la deputada estadual. 

“Às vezes, pertencer a um grupo político te leva a domar decisões que, em última instância, te prejudicam”, disse, se referindo à candidatura à Câmara Federal. “Eu não suportava Brasília. Aquelas viagens semanais, o clima muito desfavorável a minha saúde. Enfim, foram vários fatores que me levaram a aceitar, mais uma vez, uma candidatura a prefeita. E, politicamente, isso foi muito ruim. As pessoas, na eleição, tinham deixado claro que me queriam deputada federal e eu não fiz uma leitura correta disso. Foi um erro terrível”, admite. 

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