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Sem políticas de incentivo, comércio de Arapiraca sofre com crise e demissões

Para retomar caminho do desenvolvimento Arapiraca precisa de melhor infraestrutura e de mudança na mentalidade empresarial

Por 7Segundos 10/10/2019 07h07
Sem políticas de incentivo, comércio de Arapiraca sofre com crise e demissões
Comércio de Arapiraca - Foto: 7Segundos

O segundo maior município de Alagoas é conhecido pela pujança de seu comércio, que atende um grande número de cidades localizadas no entorno. O varejo é uma das principais atividades econômicas, mas apesar de atualmente não viver seus melhores dias, as chances de voltar a crescer são concretas, caso o poder público realize melhorias na infraestrutura e os empresários mudem velhos hábitos. Esta é a convicção do presidente do Sistema Fecomércio/AL e do Sindicato do Comércio Varejista (Sindilojas) de Arapiraca, Wilton Malta.

Ele foi entrevistado para a terceira matéria da série de reportagens especiais “Arapiraca: 95 anos em 7Segundos”,  que estão sendo publicadas ao longo do mês de outubro para comemorar o aniversário de emancipação política do município.

O desenvolvimento do comércio de Arapiraca, de acordo com Wilton Malta, teve como pontapé inicial a feira livre, que já na década de 1970 trazia para a cidade moradores de povoados e cidades vizinhas. Durante cerca de 20 anos, a feira livre e o fumo foram as principais atividades econômicas no município. A feira, inclusive, já chegou a ser comparada à feira de Caruaru, devido a sua extensão.

“Na década de 70, a feira livre praticamente se espalhava pela Praça Manoel André, Rua 15, parte da Aníbal Lima, Lúcio Roberto, Domingos Rodrigues, que ficou conhecida como Rua do Peixe, e a Avenida Rio Branco, uma ou 2 quadras. Com o passar dos anos, a feira se estendeu alcançando 35 ruas no centro de Arapiraca. Sem dúvida, a feira livre foi propulsora do comércio da cidade. Antigamente, Arapiraca vivia, praticamente, em torno da cultura do fumo e o comércio sobrevivia da feira. Antes disso, existiu um período, em Arapiraca, que se abriam as lojas às 8h e fechavam às 18h e não se faturava absolutamente nada. Nos anos 60/70 Arapiraca ainda não tinha um comércio desenvolvido. Algumas empresas, como Casas Oliveira e Pernambucanas, estavam iniciando suas atividades na cidade e tinham o dia da feira livre o melhor faturamento. Ano após ano, a atividade comércio foi se fortalecendo e Arapiraca passou a ser um comércio abastecedor de outras cidades vizinhas”, afirma.

Com o passar dos anos, a feira livre passou de propulsora a empecilho para o comércio, porque havia tomado grande parte da área central do município, impedindo o tráfego de veículos na região às segundas-feiras e também os deslocamentos emergenciais. Wilton Malta conta que, o fim da feira na Rua do Comércio partiu de um pedido dos próprios comerciantes. A ocorrência de dois incêndios em dia de feira, em locais cujo acesso estava dificultado pelas bancas espalhadas nas ruas, foram determinantes para o poder público, na época decidisse pela implantação de um projeto de reordenamento do Centro de Arapiraca, colocando um fim na feira livre como era conhecida naquela época. “Naquele período, tiveram duas ocorrências de incêndio, uma na empresa Vascore, supermercado existente na Praça Manoel André, e a segunda na Rua Aníbal Lima, onde estavam instaladas algumas agências bancárias. Esses dois episódios motivaram reuniões e culminou no pedido de mudança, ou seja, foi no sentido de garantir o ordenamento da cidade”, relata o presidente do Sindilojas Arapiraca.

De acordo com ele, os anos finais da década de 90 e o período entre 2000 e 2014, foram os períodos em que o comércio mais se desenvolveu em Arapiraca. No primeiro período coincidiu com a crise na cultura fumageira, onde muitos produtores rurais se abriram para a diversificação da produção agrícola. Já no início do século 21, a “época de ouro” foi estimulada por fatores diversos, como a explosão imobiliária e a chegada de várias instituições de ensino superior na cidade. O município, então, passou a ser atingido pela crise econômica que assolava o país desde aquela época, que interrompeu o fluxo de crescimento de Arapiraca. Apesar de, aparentemente, a pior fase da recessão ter passado, tanto a cidade como Alagoas sentem dificuldade de retomar os empregos no setor.

Entre janeiro e agosto deste ano, Arapiraca perdeu 349 postos de trabalho e o comércio, sozinho, foi responsável pela redução de outros 549 vagas de trabalho. Citando informações levantadas pela Fecomércio, ele afirma que o desempenho geral do comércio em Alagoas sofreu queda de 3% em relação ao mesmo período do ano passado, mostrando que o setor tem grande dificuldade em se recuperar. Mesmo assim, os prognósticos são otimistas.

“Arapiraca tem potencial. Isso é fato a começar pela localização geográfica do município que é totalmente favorável a comunicação com localidades estratégicas. Agora, precisamos de uma infraestrutura melhor para assegurar esse desenvolvimento. É essencial melhorar serviços como abastecimento de energia, água, sinal de internet, telefonia, entre outros. O que de fato se realizou foi a prosperidade de alguns setores, a exemplo do comércio de bens e serviços, que demonstra que, a partir desses investimentos básicos, os empresários terão condições de ampliar seus negócios e outros empreendimentos se sentirem atraídos por Arapiraca.

Arapiraca ainda é uma cidade que é vista como polo atacadista. Empresas de fora como a Elo Atacadista aqui se instalou, passou alguns anos e depois mudou sua estrutura para outro Estado. Os atacadistas da terra, como Asa Branca, Vieira, Andrade e tantas outras, se firmaram na cidade e, ainda hoje, somos a cidade que superou aquele momento do declínio da cultura fumageira”, explicou.

Wilton Malta afirma que os estabelecimentos comerciais locais, parte deles empresas familiares, conseguem manter a competitividade mesmo com a chegada de empresas de fora, mas a mentalidade de alguns dos empresários precisa se modernizar.

“Os empresários locais compreendem muito bem os gostos da população e possuem preços bastante competitivos, muitas vezes, ofertam produtos mais baratos do que na capital alagoana, o que já aponta como grande diferencial. No mais, quanto mais empresas, seja de fora ou não, melhor. São gerados mais empregos, maior renda circula pela população e o consumo se eleva, criando um efeito virtuoso na economia. Alguns pontos no comércio precisam se reinventar. Ainda somos um comércio do interior que, em sua maioria, não quer abrir aos domingos, feriados, dias santos, etc. Essa cultura tem que mudar. Outra mudança é a apresentação das empresas, iluminação, atendimento personalizado, qualificação constante, informatização. O poder público municipal também pode contribuir com a limpeza do centro comercial e sua revitalização”, explicou.