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Mulher viveu 99 anos com órgãos invertidos no corpo; condição não dá sinais

Ela faleceu de causas naturais e teve uma vida normal

Por UOL 10/04/2019 17h05
Mulher viveu 99 anos com órgãos invertidos no corpo; condição não dá sinais
Rose Marie Bentley - Foto: Reprodução/Science Alert

A norte-americana Rose Marie Bentley foi além da expectativa de vida para seu país: faleceu aos 99 anos, de causas naturais, após ter uma vida ativa praticando natação, criando seus cinco filhos e administrando uma loja.

E a forma física saudável da mulher fez com que uma descoberta após sua morte se tornasse ainda mais surpreendente: exceto o coração, Rose tinha importantes órgãos do corpo (como estômago, pâncreas e fígado) no lugar errado no corpo, de acordo com a AP (Associated Press).

A rara condição, conhecida como situs inversus com levocardia, foi descoberta por alunos da universidade OHSU (Oregon Health & Science University), já que a mulher decidiu doar seu corpo à ciência. Ao falar sobre o quadro, os professores da universidade estimaram que uma a cada 22 mil pessoas passam pelo mesmo fenômeno, e os pacientes muitas vezes têm doenças cardíacas com risco de vida e outras anormalidades.

De acordo com Gabriela Iervolino Oliveira, especialista em clínica médica pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a medicina ainda não sabe responder o motivo de algumas pessoas nascerem com os órgãos invertidos. "O que sabemos é que se trata de uma rara alteração congênita (ou seja, a pessoa na nasce com ela) e autossômica recessiva, o que significa que é necessário receber dois genes, vindos de pai e mãe, para poder manifestar."

Tem sintomas?

Assim como aconteceu com Rose, em muitos casos, a inversão não diminui a expectativa de vida da pessoa, nem prejudica sua qualidade. Por isso, alguns pacientes nem sequer estão cientes da condição até realizarem alguma operação. "Geralmente, os sintomas só aparecem se o paciente desenvolve alguma cardiopatia associado ao situs inversus, ou se a condição vem acompanhada de outras doenças autossômicas recessivas", aponta Oliveira.

De acordo com Cameron Walker, professor responsável pela turma que abriu o corpo de Rose, "este é um caso importante para mostrar que profissionais de saúde devem prestar atenção às sutis variações anatômicas e não apenas as grandes, em termos de abordar seus pacientes como indivíduos. Não julgue um livro pela capa", disse em entrevista à AP.

O professor pesquisou quanto tempo as pessoas com a condição geralmente vivem e não encontrou casos documentados em que uma pessoa foi além dos 73 anos. Rose Bentley superou a idade em 26 anos.