Economia

Serviço de compra e venda de criptomoeda fica sem acesso a R$ 700 milhões após morte de fundador

Gerry Cotten, de 30 anos, não revelou senha que desbloqueava dinheiro em criptomoedas.

Por Altieres Rohr 06/02/2019 16h04
Serviço de compra e venda de criptomoeda fica sem acesso a R$ 700 milhões após morte de fundador
Negócios com criptomoeda ficam impedidos e geram prejuízos de R$ 700 milhões após morte de fundador. - Foto: Altieres Rohr

A plataforma de compra e venda de criptomoedas (exchange) QuadrigaCX está com dificuldades para pagar o equivalente a 250 milhões de dólares canadenses (cerca de R$ 700 milhões) em criptomoedas e moeda corrente após a morte do fundador, Gerald Cotten, de 30 anos.

A empresa justificou, em uma petição judicial, que não consegue acessar os recursos porque Cotten não revelou a senha das carteiras virtuais para ninguém.

Dos 250 milhões de dólares canadenses devidos pela empresa aos seus clientes, cerca de 180 milhões estavam em criptomoedas (R$ 500 milhões). A companhia alega possuir cerca de R$ 540 milhões em criptomoedas que estão inacessíveis por causa do impasse técnico.

A QuadrigaCX está sendo representada por Jennifer Robertson, companheira de Cotten. Segundo documentos obtidos pelo site “CoinDesk”, Robertson explicou que até o momento não foi possível localizar a senha e nem obter acesso ao notebook de Cotten, que está criptografado.

Gerry Cotten morreu na Índia por complicações da doença de Crohn, segundo uma certidão de óbito também obtida pelo CoinDesk. A QuadrigaCX busca obter uma proteção contra seus credores, equivalente a um pedido de recuperação judicial, na Justiça do Canadá.

Em seu site oficial, a QuadrigaCX, publicou uma nota aos clientes informando sobre sua incapacidade de honrar seus compromissos. Os saques, depósitos e serviços de compra e venda de criptomoedas estão suspensos.

Problemas bancários

Além dos R$ 540 milhões inacessíveis em criptomoedas, mais de R$ 111 milhões também estariam sem destino por complicações bancárias. A QuadrigaCX não tinha uma conta em nome da empresa — os fundos circulavam em contas pessoais. Assim, a empresa conseguiu abrir contas em bancos, que normalmente não lidam com companhias envolvidas em criptomoedas.

No entanto, essa estratégia agora está impedindo a QuadrigaCX de receber o dinheiro de pagamentos processados por intermediadoras. Como a empresa não tem uma conta bancária, não há onde depositar o dinheiro.

Segundo o documento obtido pelo CoinDesk, a estratégia da QuadrigaCX é, além de resolver esses impasses, procurar interessados em adquirir a plataforma de compra e venda para que seja possível honrar todos os compromissos.

Criptografia

Criptomoedas só podem ser transferidas com a autorização de um acordo digitalmente assinado. Na maioria dos casos, esse “acordo” consiste de uma transferência simples entre duas carteiras virtuais. No entanto, é teoricamente possível programar outros tipos de contratos, permitindo que o dinheiro seja liberado em circunstâncias específicas.

Na prática, esses contratos inteligentes podem abrir espaço para ataques de hackers. Se houver alguma vulnerabilidade no código do contrato, um hacker é capaz de esvaziar a carteira virtual sem autorização dos envolvidos.

Sem a existência de uma autorização, no entanto, não é possível movimentar os fundos de carteiras virtuais. Se a senha não for encontrada e esse dinheiro não puder ser recuperado, ele na prática pode ficar fora de circulação para sempre.