Brasil

Mulher de João de Deus diz conhecê-lo desde os 10 anos: 'Coração palpitou'

As denúncias contra João de Deus vieram à tona após 13 pessoas relatarem os abusos à TV Globo e ao jornal O Globo

Por Uol 26/12/2018 20h08
Mulher de João de Deus diz conhecê-lo desde os 10 anos: 'Coração palpitou'
O médium João Teixeira de Faria, o João de Deus, deixando o IML - Foto: Ernesto Rodrigues/Estadão Conteúdo

Em depoimento à Polícia Civil de Goiás na tarde desta quarta-feira (26), Ana Keyla Teixeira, 40, mulher de João Teixeira de Faria, 76, conhecido João de Deus, disse ter conhecido o médium aos 10 anos de idade, quando saiu de Minas Gerais com a família para visitar a Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO) -- espécie de centro cirúrgico espiritual mantido por ele. 

Segundo a coordenadora da Força-Tarefa da Polícia Civil, Karla Fernandes, ela contou que "desde muito nova se encantou por ele", mas que o envolvimento amoroso só aconteceu quando ela tinha 22 anos. Os dois estão juntos desde 2001 e têm uma filha de três anos. 

"Ela disse que foi à Casa acompanhando a mãe. Nesse primeiro dia, segundo Ana, o coração dela já palpitou muito. Mas ela disse que tinha 22 anos quando se envolveu com ele", contou a delegada Paula Meotti.  

Segundo ela, apesar de ter sido questionada sobre como a relação dos dois teve início, Ana Keyla não deu detalhes de como os dois teriam iniciado o romance. 

"O que a gente percebe de relevante é a admiração que ela tem por ele, ela tem todo um olhar para ele com admiração. Ele tem um poder de persuasão extremante relevante sobre ela", disse Meotti.

Durante a oitiva, Ana Keyla Teixeira negou ter conhecimento sobre os abusos sexuais que teriam sido praticados durante os atendimentos feitos por João Teixeira de Faria na casa em Abadiânia. Também disse nunca ter visto armas, joias e dinheiro escondidos na casa do casal. 

"Ela negou totalmente que soubesse da existência de arma, negou ter visto o marido armado. Disse inclusive que com a filha deles na casa, não permitiria que armas ficassem no local", contou a delegada. 

A polícia, no entanto, acredita ser improvável que ela nunca tivesse visto nem armas, nem dinheiro, já que os objetos foram encontrados em lugares de fácil acesso. "Se você mora em um local, dificilmente teria objetos nas gavetas dentro da própria casa que não fosse de conhecimento", disse Karla Fernandes. 

A delegada Paula Meotti contou que durante as buscas e apreensões realizadas nos endereços de João de Deus, inclusive na casa onde o casal vive, algumas das armas estavam facilmente expostas. "Não tinha que revirar as roupas para acha-las. Ele dificilmente não conseguiria ver as armas", disse. "É quase impossível você não mexer no seu guarda-roupas [onde foram encontrados fundos falsos]. Do lado da cama do casal, havia o baú que dentro dele, em sacos plásticos, foi encontrado o dinheiro", acrescentou. 

A delegada disse ainda que a polícia ainda estuda se Ana Keyla Teixeira poderá ser indiciada ou será tratada no processo como testemunha. "A gente não pode antecipar a conclusão das investigações, mas é um ponto importante de contradição extremamente importante para as investigações", disse. 

Meotti afirmou ainda que a oitiva é de extrema importância para o processo e que as declarações dadas por Ana Keyla serão correlacionadas a toda a documentação apreendida nos locais onde foram realizadas buscas e apreensões. "As falas são de extrema relevância. Está sendo feita uma contraprova", disse.

João de Deus prestou depoimento ao MP-GO

Em seu primeiro depoimento ao Ministério Público de Goiás, João Teixeira de Faria afirmou "não se lembrar" das mulheres que o acusam de abuso sexual. Ele também negou que tenha cometido qualquer crime em seus "atendimentos espirituais". 

João de Deus chegou ao MP por volta das 10h sob forte escolta policial. O depoimento durou cerca de uma hora e meia. Os promotores receberam quase 600 denúncias por e-mails de pessoas que se dizem vítimas de assédio ou abuso. Desses casos, 78 foram ouvidos pela força-tarefa que conta também com agentes da Polícia Civil.

A Polícia Civil concluiu a primeira investigação e indiciou o médium pelo crime de violação sexual mediante fraude, em 20 de dezembro. Isso significa que a Polícia considera que os indícios são suficientes para que o suspeito seja denunciado criminalmente pelo Ministério Público.

Essa investigação tratou, especificamente, da denúncia de uma mulher de 39 anos que contou ter sido abusada em 24 de outubro deste ano.

Integrante da força-tarefa, o promotor de Justiça Luciano Meirelles confirmou que o MP estuda oferecer denúncia à Justiça contra João de Deus nos próximos dias por quatro casos de violação sexual mediante fraude e estupro de vulnerável. "A eventual denúncia refere-se a três casos investigados diretamente pelo MP e o outro caso resultante de inquérito policial", explicou. 

As denúncias contra João de Deus vieram à tona após 13 pessoas relatarem os abusos à TV Globo e ao jornal O Globo, em 8 de dezembro. Desde então, uma força-tarefa colheu depoimentos de supostos abusos cometidos pelo médium de denunciantes de dentro e fora do Brasil.

João de Deus ganhou fama internacional pelos tratamentos espirituais que afirmava fazer. Políticos, empresários e apresentadores de TV já procuraram os trabalhos do auto declarado médium.