Política

Bolsonaro diz que não precisa "ficar em cima" de ministros e convidará Moro

Por Uol 29/10/2018 20h08
Bolsonaro diz que não precisa 'ficar em cima' de ministros e convidará Moro
Para as emissoras de televisão, Bolsonaro adotou um discurso mais ameno e apaziguador. - Foto: Divulgação

O presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro (PSL), concedeu entrevistas a quatro emissoras de TV na noite desta segunda-feira: RecordTV, Band, SBT e RedeTV!. À Record, ele afirmou que seus ministros não precisarão de uma "cartilha" para evitar desvios éticos e de gestão no seu governo.

"Os nomes que nós já escolhemos, bem como aqueles que estão em vista, são pessoas extremamente responsáveis. Não precisa um presidente ficar em cima, por exemplo, do Paulo Guedes ou do Onyx Lorenzoni ou do general Heleno", declarou, em entrevista à Record TV, citando os três já anunciados por ele.

Segundo Bolsonaro, "eles são responsáveis, são pessoas maduras, que têm história muito bonita de vida profissional, moral e ética".

"Não precisa disso aí. Assim como o presidente, eles vão fazer o seu trabalho pelo exemplo", acrescentou.

O economista Paulo Guedes foi escolhido para comandar o Ministério da Economia, que deve reunir as atuais pastas da Fazenda e do Planejamento.

Já o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS) foi convidado para ser ministro-chefe da Casa Civil. Ele foi o coordenador do plano de governo de Bolsonaro e vai comandar o processo de transição junto ao governo do presidente Michel Temer (MDB).

Egresso do Exército assim como Bolsonaro, que é capitão reformado, o general da reserva Augusto Heleno foi anunciado como o futuro ministro da Defesa.

Lorenzoni admitiu no ano passado ter recebido R$ 100 mil em caixa dois do grupo JBS. Em entrevistas à imprensa em maio de 2017, ele argumentou que o dinheiro foi usado para quitar gastos de campanha de 2014, mas concordou que deveria "pagar pelo erro". Passados mais 15 meses da admissão de culpa do parlamentar, nenhum inquérito foi aberto e ele não foi responsabilizado de nenhuma maneira. 

Já Paulo Guedes é alvo de investigação aberta na última quinta-feira (25) pelo MPF-DF (Ministério Público Federal do Distrito Federal), por supostas irregularidades na gestão de dinheiro de fundos de pensão de estatais, no âmbito da Operação Greenfield. Advogados de Guedes afirmam que a investigação se baseia em "relatório fragilíssimo" e dizem estranhar a ação nas vésperas da eleição.

No último dia 18, o UOL revelou que o general Heleno recebia um salário de R$ 59 mil no COB (Comitê Olímpico do Brasil) até o ano passado, sendo que 80% deste valor (R$ 47 mil) era pago com recursos públicos. Segundo a legislação brasileira, o teto constitucional para funcionários públicos é de R$ 33,9 mil, salário dos ministros do STF (Supremo Federal Tribunal), e deve ser usado como referência para vencimentos bancados com verba pública. O general afirma que seu salário era legal e pago por entidade privada, e o COB diz que o teto não se aplicava ao dirigente.

Convite a Sergio Moro

À Record e depois, em entrevista ao SBT, Bolsonaro também confirmou que convidará o juiz Sergio Moro, da Operação Lava Jato, para ser ministro da Justiça ou membro do STF (Supremo Tribunal Federal). A informação já havia sido divulgada no domingo (28) pelo presidente em exercício do PSL, Gustavo Bebiano.

"Pretendo conversar com ele e, logicamente, havendo uma conversa, nos acertando, seria feito um convite. Ele diria sim ou não. Eu só posso falar isso agora porque as eleições se acabam. Se fosse antes das eleições, poderia soar como oportunismo da minha parte", disse em entrevista ao SBT.

Bolsonaro disse ainda acreditar que Moro tem um perfil mais para ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), mas que é a vaga do Ministério da Justiça que está aberta. "Ele é uma pessoa excepcional, tem um respaldo muito grande da população e tem conhecimento. Na área da Justiça, pode ser um grande parceiro no combate à corrupção."

Pelo menos dois novos ministros do STF deverão ser indicados durante os quatro anos de mandato de Bolsonaro. Celso de Mello, o decano, e Marco Aurélio Mello deixarão a Corte em 2020 e em 2021, respectivamente. Cabe ao presidente da República indicar os integrantes substitutos do tribunal.

O presidente eleito disse ainda que Moro merece ter seu trabalho reconhecido e que ele perdeu a liberdade por causa do combate à corrupção.

"Nosso querido juiz Sergio Moro é uma pessoa que perdeu a sua liberdade no combate à corrupção e hoje não pode ir à padaria mais sozinho comprar um pão, ou passear no shopping com a sua família. Tem que estar muito bem protegido por seguranças. Então é uma pessoa que merece ser reconhecida pelo seu trabalho", disse.