Direitos Humanos

Governo brasileiro pede que LGBTs sejam discretos na Copa na Rússia

Por BBC Brasil 11/06/2018 10h10
Governo brasileiro pede que LGBTs sejam discretos na Copa na Rússia
Charge russa criada para ironizar Vladimir Putin, atual presidente da Rússia - Foto: Reprodução

Governos e ONGs vêm alertando torcedores lésbicas, gays, bissexuais e transexuais (LGBT) sobre os cuidados que devem tomar enquanto estiverem na Copa do Mundo na Rússia, um país onde há forte sentimento contrário a essas pessoas e as agressões contra elas vêm aumentando, dizem ativistas.

"Isso não seria um impeditivo, porque sou apaixonado por esportes, mas não vou tocar no assunto enquanto estiver por lá, falar disso com a família que vai me hospedar nem perguntar às pessoas sobre lugares gays ou ter a liberdade de conhecer alguém", diz Almeida à BBC News Brasil.

"De certa forma, não vai ser uma experiência completa. É triste que, em 2018, eu tenha que tomar esse cuidado sem ter feito nada de errado".

Um destes alertas partiu do governo brasileiro para os 60 mil cidadãos que, segundo estimativas oficiais, têm ingressos para jogos da competição marcada para começar na próxima quinta-feira (14).

A cartilha para torcedores divulgada pelo Itamaraty na quinta-feira (7) explica na seção sobre as leis locais que "não são comuns manifestações intensas de afeto em público" e recomenda expressamente que não haja "demonstrações homoafetivas", além de manifestações sobre temas delicados - entre eles, os relacionados à orientação sexual.

O motivo seria uma lei de 2013, que tem o objetivo declarado de "proteger crianças de informações que advogam pela negação dos valores da família tradicional".

Mais conhecida como "lei contra a propaganda gay", ela veta a distribuição de material informativo que defenda os "interesses de relações sexuais não tradicionais" para menores de 18 anos. Isso, na prática, proíbe manifestações públicas da comunidade LGBT no país. Violar a norma pode resultar em multa e deportação, alertou o Itamaraty.

Questionada sobre a inclusão desse alerta na cartilha, Luíza Lopes, diretora do departamento consular e de brasileiros no exterior do Itamaraty, explicou que a intenção foi prevenir "experiências ruins".

"Nossa preocupação é dar as informações necessárias para orientar brasileiros da melhor forma possível e evitar que passem por situações constrangedoras, e há uma lei específica sobre isso. Não poderia ficar de fora", disse a embaixadora na coletiva de imprensa em que apresentou a cartilha.