Um projeto social, que deveria representar melhoria na qualidade de vida dos habitantes de Arapiraca, se tornou um grande prejuízo para a saúde pública e para o desenvolvimento humano dos cidadãos que dele dependem. O Vale do Perucaba, situado no bairro Olho D’Água dos Cazuzinhas, apresenta severos riscos aos moradores “contemplados” desde a entrega das casas, em 2016.

Todo o projeto do bairro foi financiado pelo programa “Minha Casa, Minha Vida”, do Governo Federal. Através do Banco do Brasil, a empresa Cite Construtora foi contratada para a construção dos imóveis. Em 2016, as casas foram entregues; a prefeitura de Arapiraca ficou responsável pela seleção dos contemplados.

Desde então, problemas estruturais nas casas (como tetos despencando por falta de madeira) têm sido exaustivamente noticiados por toda mídia alagoana. O pior defeito do lugar, sem dúvidas, são os problemas relacionados ao saneamento básico: esgoto corre a céu aberto, a tubulação de esgoto sempre entope, e os dejetos retornam às casas dos moradores através dos ralos e dos vasos sanitários.

Não é a primeira, nem a segunda vez que moradores reclamam dos mesmos problemas na região. Em 2017, a própria prefeitura de Arapiraca precisou “colocar a mão na massa” e realizar reparos nas tubulações entupidas, ainda que, segundo a instituição, a responsabilidade seja inteiramente da construtora contratada. Em janeiro deste ano, o 7Segundos voltou ao bairro, e constatou que a calamidade continuava pairando, através do insuportável cheiro de esgoto nas ruas do Perucaba.

Agora, no período da chuva, a situação que já era emergencial, está forçando os “contemplados” a ficarem sem um teto novamente. As ruas alagam, o esgoto não escoa, e casas estão sendo inundadas de dejetos que retornam para dentro de casa. Kelly, uma das moradoras, teve a casa invadida de lama, esgoto e fezes, precisando abandonar o local. Confira o relato da moradora:

“Começou no ano passado, quando deu as primeiras chuvas. Quando chove forte, entra água pelo ralo do banheiro e pela caixa de gordura do quintal, e a casa fica cheia de água. Quando isso começou a acontecer, eu fui na prefeitura e me mandaram ir no banco [BB], e não me deram solução. Essa semana, eu fui novamente no banco e a atendente conseguiu mandar um e-mail para a construtora, falando sobre a situação da minha casa. Até agora, não se tem uma resposta”.

As fotos da situação da casa de Kelly você confere em nossa galeria abaixo.

O 7Segundos conversou com a Prefeitura de Arapiraca, que explicou mais uma vez que a responsabilidade pelo local ainda é da Cite Construtora - até que se cumpram cinco anos da entrega do projeto – e que quem deve fiscalizar as irregularidades é o Banco do Brasil. Confira a nota:

“O Residencial Vale da Perucaba, entregue a população em 2016, está sob responsabilidade da construtora e do Banco do Brasil, instituição financiadora da obra. Ainda em 2017, após diversas reclamações de moradores, a Prefeitura de Arapiraca, através da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Obras, notificou a construtora e o banco para que tomassem as devidas providências. Cópia desse processo também foi encaminhada, através da Procuradoria Geral do Município, para o Ministério Público Estadual (MPE), para o acompanhamento da situação.

Com relação aos relatos de esgoto a céu aberto, equipes da Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente estiveram no local, também em 2017, constataram o fato, notificaram a Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal) para que o órgão tomasse as devidas providências. Em seguida foi lavrado um ato de infração, com multa. Como o caso é reincidente, a pasta realizará uma nova visita ao local para ratificar a notificação junto à Casal.

Vale ressaltar que a responsabilidade da Prefeitura no que diz respeito ao residencial citado, foi unicamente selecionar as famílias que foram beneficiadas, através da Secretaria Municipal de Assistência Social e Políticas para a Mulher (então chamada de Secretaria Municipal de Assistência Social)”.

 

O 7Segundos tentou o contato com a Cite Construtora, mas não obteve resposta. Em relação ao Banco do Brasil, o 7Segundos ainda não conseguiu o contato do setor responsável pela fiscalização das obras.