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[Vídeo] FPI do São Francisco multa Prefeitura de Feliz Deserto por lançamento de esgoto na APA da Marituba

Por MPE 06/03/2018 14h02
[Vídeo] FPI do São Francisco multa Prefeitura de Feliz Deserto por lançamento de esgoto na APA da Marituba
FPI do São Francisco multa Prefeitura de Feliz Deserto por lançamento de esgoto na APA da Marituba - Foto: Ascom/MPE
O Município de Feliz Deserto guarda em suas terras um verdadeiro santuário de flora e fauna. Lagoas, charquos, pântanos e banhados formam um aglomerado de águas superficiais que dão uma paisagem extraordinária, servindo de berçário de peixes e ponto de descanso e reprodução de aves migratórias. Tudo isso integra a área de preservação ambiental (APA) da Marituba, que alimenta o corpo do Rio São Francisco e contribui com a formação dos manguezais.
 
É nesse cenário que o esgoto da cidade deságua. Direto das residências, sem qualquer tratamento. A Fiscalização Preventiva e Integrada da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (FPI do São Francisco) chegou a flagrar lançamento de resíduos poluentes no Rio Canduípe, que corta a cidade e cujas águas alcançam a Praia do Peba, na altura de uma região conhecida como Barrinha.
 
O despejo de esgoto ocorre paralelamente à falta de tratamento da água que abastece os consumidores das zonas urbana e rural. Distribuída pela Prefeitura do Município, ela não passa por qualquer tratamento básico, como desinfecção ou aplicação de cloro. Resultado: uma população vulnerável a doenças e um meio ambiente desequilibrado.
 
"A distribuição de água sem tratamento expõe os seus consumidores a doenças de veiculação hídrica, como a diarreia, que pode matar. A contaminação pela presença de bactérias patogênicas pode ocorrer na reservação da própria água ou no processo de distribuição dela", disse a coordenação da Equipe de Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário.
 
O analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (IBAMA) na Bahia, Alberto Santana, explicou que a poluição da água afeta a qualidade de vida do bioma existente na APA da Marituba.
 
"O despejo de esgoto doméstico sem qualquer tratamento nas águas da APA provoca o aumento de matéria orgânica, que, por sua vez, retira o oxigênio e outros nutrientes, causando a eutrofização e contaminando a água do banhado. Na sequência, tal recurso hídrico contamina a água do Rio São Francisco e, consequentemente, a água do mar", expôs o analista.
 
*Reincidência e multa*
 
Dois aspectos que chamaram a atenção da equipe foram a ausência dos gestores públicos, entre eles o prefeito de Feliz Deserto e os secretários municipais de Obras e Saúde, e a reincidência do Município no descuido com a água e o esgoto.
 
"Quando a FPI do São Francisco passou aqui em 2014, a situação do abastecimento de água e lançamento de resíduos líquidos era melhor. Nesses quatro anos, os órgãos de fiscalização voltaram a cidade, que preferiu desconsiderar nossas orientações e notificações. Vai chegar o momento em que só nos restará ações mais ostensivas nas esferas cível e penal", lamentou a coordenação da equipe.
 
O Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) lavrou um auto de infração no valor de R$ 50 mil pelo lançamento de resíduos líquidos sem tratamento em desconformidade com a legislação vigente.
 
A Secretaria de Estado de Saúde de Alagoas (SESAU), por sua vez, expediu duas notificações devido às faltas de tratamento mínimo da água, em desacordo com a Portaria n. 2.914/2011, e pela falta de controle no processo de distribuição do líquido como produto.
 
Já a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH) notificou a Prefeitura pela falta de autorização na captação de água dos poços tubulares. O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Alagoas (Crea/AL) lavrou um auto de infração em desfavor do profissional responsável pelo tratamento da água.
 
O Batalhão de Policiamento Ambiente também lavrou um comunicado de ocorrência policial pela Prefeitura de Feliz Deserto causar poluição em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora.