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Banco Bradesco sofre para cobrar R$ 1 bilhão de Eike Batista

Eike não pagou a conta nem teve bens bloqueados para arcar com essa dívida.

Por 7 Segundos Arapiraca com Folha de São Paulo 14/11/2017 08h08
Banco Bradesco sofre para cobrar R$ 1 bilhão de Eike Batista
Eike Batista - Foto: Felipe Dana/AP

A euforia dos bancos com o grupo de Eike Batista ainda cobra seu preço. Um de seus maiores credores, o banco Bradesco tenta receber judicialmente e não consegue mais de R$ 1 bilhão do empresário que já foi o homem mais rico do Brasil e hoje está preso por irregularidades investigadas pela Lava Jato.

A notificação de cobrança foi enviada pela Justiça de São Paulo para o fórum de Bangu, no Rio, em fevereiro deste ano, quando Eike ainda estava no presídio.

Desde abril, o empresário cumpre pena domiciliar por decisão do ministro do Supremo Gilmar Mendes. Até hoje, Eike não pagou a conta nem teve bens bloqueados para arcar com essa dívida –algo que estava previsto no contrato com o banco.

A penhora dos bens não pôde ser feita porque o fórum de Bangu não devolveu os documentos da notificação para o Tribunal de Justiça de São Paulo, onde tramita o processo. É o que afirma o banco em novo pedido à Justiça feito no mês passado. Sem isso, não é possível bloquear mais bens de Eike Batista.

O valor já foi devidamente provisionado e o Bradesco ainda tenta recuperar o dinheiro – ou parte dele.

Segundo cálculos da agência americana Bloomberg, Eike tem hoje um patrimônio de US$ 104,5 milhões (R$ 345 milhões pela cotação atual).

Junto com o Itaú, o Bradesco foi um dos bancos mais expostos ao grupo X, como ficou conhecido o império construído pelo empresário.

Somente nos empréstimos de curto prazo, os dois bancos registraram perdas de cerca de R$ 3,7 bilhões – num total de quase R$ 8 bilhões envolvendo outras instituições.

No BNDES, os empréstimos de longo prazo somaram cerca de R$ 20 bilhões entre operações diretas (feitas pelo próprio banco) e indiretas (por meio de repasses a outras instituições que assumiram o risco da operação).

A dívida cobrada pelo Bradesco é de uma empresa em um paraíso fiscal chamada Aux Luxembourg e que seria de Eike. Nos documentos, ele aparece como representante legal da companhia.

Em 2013, a Aux Luxembourg fechou contrato de empréstimo com o Bradesco, que então abriu uma espécie de conta de crédito para o grupo X.

No processo, o banco afirma que, em dezembro de 2016, o empréstimo venceu e a Aux Luxembourg não pagou US$ 318,5 milhões –equivalente a R$ 1,1 bilhão em valores de fevereiro deste ano e que incluem impostos.

Procurado, o banco Bradesco não quis se pronunciar. O advogado de Eike Batista não retornou até a conclusão desta edição.

DERROCADA

Eike Batista foi considerado o homem mais rico do Brasil pela revista "Forbes". Em 2012, sua fortuna foi estimada em US$ 34 bilhões. Na ocasião, ele disse que pretendia ser o homem mais rico do mundo até 2015 –chegou a ser o sétimo.

Em boa parte, seu império cresceu graças à política de campeões nacionais do ex-presidente Lula, que concedeu crédito farto e barato do BNDES para grupos como Odebrecht e JBS, hoje focos da operação Lava Jato.

Em junho de 2013, porém, os planos começaram a rui quando a OGX reduziu o plano de produção de petróleo, confirmando uma desconfiança generalizada no mercado de que as promessas de Eike eram infundadas.

Em outubro daquele ano, a empresa entrou em recuperação judicial com uma dívida de R$ 11,2 bilhões. Na sequência, outras empresas do grupo, como a OSX, entraram em dificuldades também.

A situação do empresário piorou ainda mais com o envolvimento na Lava Jato.

Eike foi preso em janeiro deste ano porque dois doleiros que fecharam acordos de delação premiada entregaram supostos pagamentos de US$ 16,5 milhões em propina pelo empresário ao ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, que também está preso e foi condenado a 45 anos.