Agreste

Casas de farinha do Agreste inovam no uso de resíduo venoso da mandioca

Por Redação com assessoria 22/05/2015 07h07
Casas de farinha do Agreste inovam no uso de resíduo venoso da mandioca
Casa de Farinha - Foto: reprodução

Mandioca ou macaxeira? Ela pode receber diversos nomes, dependendo da região do país, mas uma coisa é certa: a mandioca possuiu uma alta concentração de ácido cianídrico, o que pode ser até letal. É por esta razão que a macaxeira - conhecida como mandioca mansa - chega à mesa de muitos brasileiros. Através da mandioca, 'a braba', apenas a farinha e a goma desta raiz são recomendações saudáveis que podem fazer parte do consumo familiar.

A mandioca pode, no entanto, ser consumida sem causar danos à saúde. Mas, para isso, ela precisa passar por vários processos que eliminam o ácido cianídrico. E são nessas etapas que surge a preocupação com o meio ambiente, porque algumas casas de farinha do Agreste alagoano estão fazendo o destino incorreto desse ácido chamado de manipueira: o resíduo venenoso está sendo despejado diretamente no solo, contaminando o lençol freático.

São denúncias como essas que despertam as instituições e a própria comunidade a encontrar saídas para melhorar as condições ambientais do estado e garantir uma melhor qualidade de vida de quem sobrevive da mandioca e de quem faz dela um alimento para o consumo. Por isso, é preciso ficar atento para diferenciar esses símbolos da culinária nordestina – a mandioca mansa e a braba –, esta que é usada pelo setor agroindustrial e pode levar a sérios riscos de saúde.

Novos destinos da manipueira geram lucro para as casas de farinha

As casas de farinha, tanto de fabricação de farinha de mesa como a de goma, geram subprodutos sólidos (casca, varredura e bagaço) e líquido (manipueira) com elevado potencial poluidor. Também durante o processamento da farinha, diversas substâncias tóxicas são lançadas no ambiente deixando trabalhadores e a população que vive em seu entorno susceptível à contaminação.

No povoado Maracujá, em São Sebastião (AL), a casa de farinha do seu Domiro encontrou novas formas de aproveitar essas substâncias tóxicas a partir de um destino consciente e lucrativo para a farinheira, preservando ainda o meio ambiente e a saúde de todos que fazem da mandioca o seu sustento.

"Aqui são produzidas dez toneladas de mandioca por semana e quatro mil litros de manipueira", conta Claudomiro Batista, mais conhecido como seu Domiro, que herdou a casa de farinha da família e há dez anos conseguiu construir uma farinheira mais moderna. Segundo ele, sempre que sobra manipueira além do uso da sua própria casa de farinha, ele doa para outros povoados.

Entenda o processo

O processo de produção da farinha da mandioca, na casa de farinha do seu Domiro, assim como em muitas outras do Agreste alagoano, começa já na plantação, passando pelo processamento, curral e palmas. São nessas duas últimas etapas que as substâncias tóxicas são aproveitadas para uma nova finalidade.

Todo o processo de produção da farinha e da goma de mandioca consiste em eliminar os resíduos venenosos para que o produto final possa chegar com segurança à mesa da população e servir como um alimento de qualidade. Seu Domiro explicou que é no momento da prensagem que a manipueira é liberada: "esse líquido amarelo venenoso desce pelo ralo e entra numa tubulação que é guardada num reservatório colocado fora da farinheira".

Após o tempo necessário para eliminar os tóxicos (três dias), seu Domiro usa essa manipueira como ração para o gado, misturada à maniva (haste da mandioca), casca de mandioca, pó de arroz e farinha de trigo. "Essa mistura serve como medicamento. O gado não cria carrapato e fica bem alimentado. E ainda pego um bom preço pela venda do animal", contou ele, que aprendeu a fazer esse uso da manipueira através das capacitações do Arranjo Produtivo Local – APL da Mandioca.

A gestora do APL Mandioca no Agreste, Jeane Vilarins, explicou que grande parte dos produtores utiliza a manipueira também como fertilizante e inseticida natural, além do seu uso na alimentação animal. "Existem projetos no APL para utilizá-la na produção de bioenergia e biofertilizante nas casas de farinha e nas lavouras, bem como na produção de sabão, vinagre e tijolo ambientalmente sustentável", acrescentou.