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Polícia Federal investiga corrupção na escolha do Rio para sede das Olimpíadas 2016

Por Claudio Barbosa com Globoesporte.com 05/09/2017 18h06
Polícia Federal investiga corrupção na escolha do Rio para sede das Olimpíadas 2016
Nuzman chega à Polícia Federal do Rio para prestar depoimento - Foto: Reuters

 

A Polícia Federal apresentou detalhes da operação chamada de Unfair Play (Jogo Sujo), que investiga um possível esquema de corrupção de compra de votos da eleição da cidade sede da Olimpíada de 2016. A ação realizada por 70 policiais na manhã desta terça-feira cumpriu dois mandados de prisão e 11 de apreensão. Presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, Carlos Arthur Nuzman é um dos acusados por envolvimento no esquema. O dirigente esteve na sede da Polícia Federal no Rio e prestou depoimento no iníco da tarde, por volta das 14h30. Segundo o Ministério Público Federal, ele foi peça central no esquema de corrupção.

Autoridades francesas Autoridades francesas e brasileiras participaram da coletiva na Superintendência da Polícia Federal. Fabiana Scheiner, procuradora da república, destacou: 

- "Quem tinha condições para aproximar essas duas pontas era o COB, na pessoa do seu presidente Carlos Arthur Nuzman. É inegável que Nuzman atuou de forma bastante presente e expressiva no convencimento de pessoas a votarem pelo Rio de Janeiro. Isso é bastante público. Tanto Nuzman como outros membros do Comitê Olímpico do Brasil e agentes políticos viajaram para diversos países para tratar do assunto e tentar trazer a sede das Olimpíadas para o Rio de Janeiro. Nuzman se mostra como elemento central na ligação entre os pontos, entre empresários e representantes do Comitê Olímpico Internacional (COI). E é por conta desses indícios que foram impostas medidas de prisão ao senhor Carlos Nuzman, que fica impedido de deixar o país até que as investigações sejam finalizadas. "

A procuradora informou que o MPF busca o bloqueio de R$ 1 bilhão em bens por danos morais coletivos ao povo brasileiro. Segundo o MPF, a imagem do país ficou manchada.

- "Os Jogos foram usados para um trampolim de atos de corrupção de dimensão olímpica. Formou-se uma triangulação de interesses e favores de agentes políticos e esportivos, e um seleto grupo que planejou passo a passo. Pedimos um bloqueio de bens de um bilhão de reais a título de danos morais coletivos. Esse esquema usou a população brasileira e ofende objetivamente a honra de todos os brasileiros".

Situção 

A operação da PF começou logo cedo, no Rio de Janeiro. Mandados foram cumpridos na casa de Carlos Arthur Nuzman e na sede do COB. Os bens dos três principais alvos da ação (Nuzman, Arthur Cesar de Menezes, conhecido como "Rei Arthur" (ex-dono da fornecedora do Estado chamada Facility) e Eliane Pereira Cavalcante (ex-sócia dele na empresa) foram bloqueados. Nuzman também já teve o seu passaporte apreendido e não pode sair do país. "Rei Arthur", que não estaria no Brasil, não foi encontrado pela polícia e é tratado como foragido. Ele foi incluído na lista de procurados da Interpol. A informação da PF no momento é de que o "Rei Arthur" estaria em Miami, nos Estados Unidos.

Frederico Skora, delegado da Polícia Federal. foi enf´tico: "Se trata de uma investigação de organização criminosa responsável por pagar propina. Os contratos seriam feitos por pagamento de dinheiro em espécie através de contratos fictícios e pagamentos de despesas pessoais. Haveria também transferencias bancárias feitas por doleiros"

Operação

Segundo Eduardo El Hage, procurador da república, a operação tem dois eixos, um no Brasil e outro na França, que tem como ponto de contato a empresa comandada pelo chamado "Rei Arthur", que faria a ponte entre Sérgio Cabral, então governador do Rio de Janeiro, e dirigentes africanos. Os contratos teriam envolvido bilhões de reais.

A investigação, que começou em novembro, contou com quebra de sigilos bancários e fiscais, e acordos de delação mostraram que Cabral recebeu mais de 10 milhões de dólares (cerca de R$ 32 milhões) em um banco em Antigua e Barbuda através de um operador financeiro. Arthur Cesar também abriu uma conta no mesmo banco. As contas de Cabral eram manipuladas por um "laranja". Alguns elementos chamaram atenção na investigação. Segundo a procuradoria da república, o primeiro fato é a "farra do guardanapo", ali estavam presentes pessoas que já foram denunciadas e teriam se valido da Olimpíada para lucrar, como Fernando Cavendish