Esportes Brasil

"Não tenho muitos amigos. A maioria morreu ," diz zagueiro do Náutico, ex-traficante.

Por Claudio Barbosa com Uol esportes 14/07/2017 16h04
'Não tenho muitos amigos. A maioria morreu ,' diz zagueiro do Náutico, ex-traficante.
Breno Calixto, zagueiro do Náutico, falou sobre envolvimento com o tráfico - Foto: Divulgação

O zagueiro Breno Calixto, do Náutico, tem uma trajetória diferente dos jogadores que passam a juventude trabalhando duro nos gramados Brasil afora correndo atrás do sonho de se tornarem atletas profissionais. O atleta, que tem 25 anos, era traficante há dois anos, no Parque São José, favela da periferia de Fortaleza, no Ceará. Em entrevista ao UOL, ele conta que largou o crime para viver só do futebol por várias razões, entre elas, a morte de amigos e o incentivo de um antigo treinador.

"Na verdade, é que eu não tenho muitos amigos. A maioria morreu. Na época em que eles eram vivos, eu era o orgulho do bairro", disse ele à reportagem, falando, em seguida, do técnico Bira, da escolinha Esporte Show, da capital cearense.

"Ele sempre insistiu em mim. Dizia que eu seria jogador e que me tiraria de lá da favela. Dizia que eu acabaria como meus amigos que estavam morrendo se continuasse por lá. Arrumou alguns times para mim fora de Fortaleza, mas eu sempre voltava e me envolvia de novo. Só que essa história de viajar e conhecer outros lugares foi me reformando", diz.

Breno disse também que começou no tráfico ainda criança e que nunca havia conseguido se afastar completamente do crime, mesmo já treinando na base.

"Entrei no crime muito cedo. Já estava junto com bandidos quando tinha nove ou dez anos. Para falar a verdade, sempre foi o crime. No decorrer do tempo, mesmo jogando na base, continuei. Sempre fazia meus bicos por fora. Na época, quando eu era envolvido, meu pai saía para trabalhar muito cedo e voltava 20h ou 21h. Não tinha controle de saber o que eu fazia. Minha avó já era idosa e não era muito ligada. Eu saía na hora em que queria e voltava quando queria. Pegava minhas coisas, escondia, e ela não achava. Ela nem imaginava. Eu falava que ia jogar bola e ia para a favela. Nessa época, todo mundo já falava que eu tinha talento", afirma o jogador, que nunca foi preso.

"Só detido, mas por briga de torcida. Fui detido, passei 24 horas e fui liberado. Nem meu nome eles anotaram. No crime eu nunca fui pego”.

Breno foi contratado pelo Náutico neste ano e é muito querido no grupo, que o aponta como jogador dedicado. Ele saiu do crime quando percebeu que realmente tinha talento e poderia se tornar um jogador profissional.

" Um dia eu cheguei no chefe (da favela) e disse que tinha oportunidade para ser profissional. Disse que ia viajar e não queria mais o crime. 'A partir de hoje, estão aqui as drogas e o dinheiro. A gente está limpo'. Ele disse: 'Vai lá que você vai vencer. Você tem futuro e sua vida não é aqui, não. Vai com Deus. O que precisar, a gente está aqui'. Foi tranquilo", finalizou.