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Acerola é tão eficaz quanto antioxidante artificial, aponta pesquisa

 

Por Assessoria 28/09/2012 20h08
Muito do que encontramos nos supermercados, nas farmácias e até nas construções civis, possui substâncias antioxidantes que servem para a conservação dos produtos principais, ou aqueles mais nobres nas preparações correspondentes. No caso dos alimentos, os antioxidantes fazem, por exemplo, a manteiga não ficar rançosa, o arroz prolongar a validade e o iogurte não azedar facilmente. Do mesmo jeito, essas moléculas são utilizadas para preservar a funcionalidade de um medicamento, de um cosmético ou na fabricação do concreto que dificilmente vai corroer em contato com a maresia.

Um grupo de pesquisadores do Instituto de Química e Biotecnologia da Universidade Federal de Alagoas analisa a capacidade antioxidante de algumas substâncias de origem natural e de extratos vegetais, na perspectiva de substituir aditivos utilizados na indústria, que são, geralmente, sintéticos. Um exemplo comum é o antioxidante BHT (butil-hidroxi-tolueno), encontrado em cosméticos, remédios, combustíveis e alimentos como arroz, linguiça de porco, chiclete e flocos de cereais, entre outros.

Algumas pesquisas foram desenvolvidas em parceria com o Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS) da Ufal, a exemplo do trabalho da ex-aluna e atual docente, Alane Cabral de Oliveira, sob a orientação da professora Marília Goulart e coorientação de Iara Barros Valentim. Nesse trabalho, foram utilizados resíduos de acerola, abacaxi e maracujá, visando ao seu aproveitamento, diminuindo seu descarte como lixo na Cooperativa Pindorama, no Município de Coruripe. Para obter os resultados esperados, a equipe preparou farinhas a partir de extratos metanólicos dos resíduos, utilizando diferentes métodos para cada fruta.

Os resultados foram surpreendentes. O resíduo de acerola se mostrou o antioxidante mais completo, capaz de substituir o aditivo alimentar BHT. “Para levar isso adiante e produzir comercialmente, por exemplo, é preciso uma análise mais detalhada com alguns experimentos que identificam a quantidade mais eficaz e experimentos relacionados à segurança alimentar. Não é porque é natural que as pessoas podem sair por aí tomando, é preciso ter muito cuidado”, explicou a professora Marília Goulart.

A pesquisa também apontou o maracujá como excelente na proteção da membrana celular a ataques de radicais livres, que são moléculas instáveis, geradas a partir da redução do oxigênio, ligadas a processos degenerativos e ao envelhecimento, entre outras doenças.

Salubridade dos antioxidantes artificiais é questionada

De acordo com a professora Marília, a literatura científica discute os efeitos mutagênicos e carcinogênicos dos antioxidantes artificiais, como o BHT. Alguns estudos relatam a danificação do material genético e a possibilidade de estar relacionado com alguns tipos de câncer, além de causar problemas no fígado, se consumido em altas quantidades.

Por causa destes problemas, o aditivo alimentar já foi banido para uso alimentício em países como Japão, Romênia, Suécia e Austrália, além do continente europeu. Os Estados Unidos também o proibiram nos alimentos infantis.

Jenipapo, umbu e seriguela

Outra pesquisa do Instituto de Química e Biotecnologia da Ufal analisou a capacidade antioxidante do umbu, da seriguela e do jenipapo a partir de extratos de pele, semente e polpa das frutas tropicais. A tese de doutorado de Cristiane Omena (PPGQB), docente da Universidade Estadual de Pernambuco (UPE) em Petrolina, sob orientação do professor Antônio Euzébio Goulart Santana, identificou a semente e a pele da seriguela e do umbu como os extratos que apresentaram os melhores efeitos nas atividades antioxidantes, quando comparadas à ação do BHT, do Trolox e do ácido gálico, usados como padrões.

Já a polpa do jenipapo apresentou eficácia de 50% a 60% nos ensaios de proteção à membrana, a chamada peroxidação lipídica, relacionada à alteração de odor e sabor dos alimentos, diminuindo o tempo de vida útil.

Os laboratórios de Eletroquímica e de Pesquisa em Recursos Naturais da Ufal continuam os estudos com foco em outros extratos de origem vegetal e animal, mas os dados já publicados incentivam o avanço da ciência. “Guardamos alguns resultados para gerar patente, mas esse estudo tem informações importantes que escolhemos compartilhar com a comunidade, porque se trata de uma contribuição científica de impacto”, comentou Goulart. Estes trabalhos recém-publicados em revistas de forte fator de impacto encontram-se disponíveis e têm gerado elevado nível de citações.