Claudemir Calixto

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Relato de advogada vilelense aponta para possível subnotificação de casos suspeitos de coronavírus em Alagoas

Embora o município tenha dado toda a atenção necessária para a paciente, segundo ela, falhou em não notificar seu caso à SESAU

28/03/2020 16h04
Relato de advogada vilelense aponta para possível subnotificação de casos suspeitos de coronavírus em Alagoas

Na manhã deste sábado (28), Maria Zilda, moradora da cidade de Teotônio Vilela, no agreste alagoano, fez uma postagem em sua sua rede social, na qual chama atenção para a possível ocorrência de subnotificação dos casos suspeitos de coronavírus no município. A advogada é vilelense e, por conta da sua vida profissional, atua em Teotônio Vilela e Maceió, tendo que passar dias da semana nas duas cidades.


Ao blog, ela contou que começou a sentir sintomas de cansaço físico no último domingo (22), após retornar da capital alagoana. E só a partir de segunda-feira (23), os sintomas (problemas respiratórios) começaram a aparecer. “Primeiro, eu fiquei com fraqueza no corpo todo – isso começou domingo –, depois, a partir de segunda-feira (23), eu comecei a ter coriza, tossir e sentir um pouco de falta de ar, mas só fui ao hospital local na quarta-feira (25)”, relata Maria. 


Segundo a paciente, ela resolveu ir até o hospital depois de conversar com o diretor da unidade de saúde, Ronaldo Cordeiro, que, se mostrando muito preocupado, a orientou a procurar ajuda médica. Na Unidade Mista Nossa Senhora das Graças, foi atendida pelo médico, Dr. Antônio – “muito bem atendida, por sinal”, destaca Zilda – e também pela profissional Márcia. Segundo ela, o médico entendeu que os sintomas alertavam para o novo coronavírus, e determinou o isolamento social e a notificação dos órgãos competentes para investigação e monitoramento, bem como o teste. Além de ter sido notificada como um caso suspeito para a Covid-19, a notificação a colocou no grupo de risco em virtude do seu histórico grave de síndromes respiratórias – asma e rinite alérgica.


Orientada a ficar em casa, ela conta: foi informada que receberia visitas diárias da equipe de saúde do município, o que, segundo ela, ocorreu apenas na sexta-feira (27), sendo assistida o restante do tempo, via WhatsApp, pela UBS responsável pelo monitoramento. Além dele, segundo a advogada, a paciente também recebeu atenção do técnico Marquinhos, da enfermeira Juciária, e do próprio diretor do hospital. Foram eles que deram maior atenção ao seu caso, fazendo, inclusive, a coleta de sangue para realização de hemogramas, mesmo não sendo os responsáveis diretos por essas ações, conforme destacou a advogada. Segundo a mesma, o resultado dos exames de sangue deve ser entregue a sua médica da UBS, que deverá atendê-la na próxima segunda-feira (30).

 

 

Embora tenha sido bem atendida, desde que deu entrada no hospital local, na quarta-feira (25), e relatar atenção e cuidado dos profissionais da saúde do município, em relação ao seu caso – em que pese, até o momento, a não realização do teste para o covid-19 –, a advogada chama a atenção para a subnotificação dos casos suspeitos no munício, e, portanto, no estado e no país. Além disso, ela busca a realização do exame para que possa sair da estatística de suspeitos, na qual, sequer entrou oficialmente – mas está tendo que viver em isolamento social por 14 dias – ou até mesmo receber o diagnóstico e poder tratar com mais precisão o problema.


Na reclamação que fez à ouvidoria da secretaria municipal de saúde do município, ela questiona o porquê de o seu caso não ter sido informado – através do setor de vigilância em saúde do município – à secretaria de saúde do estado de Alagoas (SESAU). A advogada relata que, na noite desta sexta-feira (27/), depois de sentir crise de falta de ar – desesperada – ligou para o Cievs; questionou por que o caso dela não constava como suspeito, se a saúde do município havia lhe notificado e, mais que isso, lhe inserido no grupo de risco. A Cievs informou, conforme relatou Maria Zilda, que consta apenas um caso suspeito para o município de Teotônio Vilela, confirmando que o seu não foi informado e que, por isso, nada podia ser feito, nem mesmo o teste para a covid-19.


“Não estou dizendo que a saúde do município é ruim. Muito pelo contrário. Se ouvirem o que eu digo, entenderão. E nem acho que o gestor saiba do ocorrido. Agora, questiono o porquê de o estado não ser informado do meu caso e de outros que sei que existem no meu município. Se eu sou suspeito para o vírus, eu tenho que constar na estatística, inclusive, para poder realizar o teste. Ninguém queira estar doente e não poder saber o que tem, e mesmo assim ser obrigada a cumprir a quarentena sem realização do teste. É viver na angústia, porque não posso tratar meu problema respiratório com os medicamentos que tratava anteriormente. Se estiver com o vírus, serei prejudicada, pois não posso tratar o vírus se não sei se tenho ele. Isso sem falar no cuidado com as outras pessoas", desabafa Zilda.

 

 

Município referência em saúde

Considerado uma referência em saúde no país, Teotônio Vilela recebeu, em outubro de 2019, representantes do Ministério da Saúde (MS), Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC) e 15 gestores do Serviço de Atenção Domiciliar (SAD) de dez estados do Brasil, para conhecer a estrutura e o fluxo de atendimento da equipe do Programa Melhor em Casa e toda a rede de saúde municipal.


O Programa Melhor em Casa de Teotônio Vilela é referência pelo SAD, ocupando lugar entre os sete melhores do Norte e Nordeste. Por isso, o relato da advogada Maria Zilda, feito em sua rede social, na manhã deste sábado (27), acende um alerta para a gestão municipal, permitindo criar estratégias para fortalecer o setor da saúde, que já funciona de modo referencial no município.

 

 

Subnotificação para a covid-19 no Brasil

Segundo matéria do jornalista Daniel Dieb, publicada pela Folha nesta quinta-feira (26), um estudo realizado pela Escola de Londres de Higiene e Medicina Tropical (London School of Hygiene and Tropical Medicine), e publicado no domingo (22), revela que, dos casos sintomáticos de Covid-19, o Brasil, detecta, em média, 11%, revelando que apenas uma em cada dez pessoas que carregam o vírus e demonstram algum sintoma foram registradas pelo governo.


Segundo ainda a reportagem, “tomando como base os dados desta quarta-feira (24), em que o Ministério da Saúde atualizou para 2.433 os casos confirmados no Brasil, pode-se estimar que há 22.118 casos sintomáticos de coronavírus, dos quais 19.685 não foram identificados”.

 

 

Número de casos confirmados em Alagoas

Subiu para 14 o número de casos confirmados do novo coronavírus em Alagoas. A informação foi divulgada, durante a coletiva diária do Ministério da Saúde, na tarde deste sábado (28), sobre os casos de covid-19 no país. O novo número foi confirmado pela Secretaria de Estado da Saúde (SESAU), em seu boletim diário, no fim da tarde de hoje. Trata-se de duas mulheres, ambas em Maceió, sendo duas com 29, e outra com 67 anos de idade.


Segundo o secretário Alexandre Ayres, elas já estavam isoladas e o período de quarentena já está terminando. O primeiro paciente diagnosticado, um homem de 42 anos que retornou da Itália no último dia 03 de março, já está curado. Em todo o país, segundo o Governo Federal, foram confirmados 3.904 casos e o registro de 111 mortes. No Nordeste, o estado do Ceará lidera o ranking com 314 casos, seguido da Bahia com 122.

 


 

Ao blog, através de nota, a assessoria de comunicação da secretaria de saúde de Teotônio vilela disse que "a coleta não é indicada para pessoas assintomáticas e para casos de resfriado ou Síndrome Gripal (SG), a coleta está apenas indicada para casos classificados como Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e para profissionais SINTOMÁTICOS para que possam com segurança desenvolver suas atividades laborais". Confira nota na íntegra abaixo:

 

NOTA DE ESCLARECIMENTO

 

A Secretaria Municipal de Saúde de Teotônio Vilela, vem através desta nota esclarecer a público, sobre a conduta das equipes de saúde no caso exposto em redes sociais e em meios de comunicação. 

A Sra. M. Z.S em contato com a Vigilância em Saúde, no dia 25/03/2020, paciente referiu no momento coriza, mal estar, febre (não soube informar a temperatura), tosse seca, dispneia e astenia, orientada ainda por ligação, que a senhora referida permanecesse em isolamento domiciliar junto aos seus contatos, foi informada que a equipe de saúde entraria em contato de imediato via telefone e no agravamento do quadro clínico realizaria a visita domiciliar pela equipe de saúde a cada 48 horas para avaliação do caso e continuidade das condutas. De acordo com o fluxo de atendimento estabelecido, foi encaminhada a demanda para o diretor da UBS para assim, a equipe de saúde dar continuidade a assistência. 

No dia 25/03/2020 paciente deu entrada na Unidade Mista Nossa Senhora das Graças, com queixas de quadro VIROSE, com histórico de contato com residentes de São Paulo e Belo Horizonte, o médico realizou o atendimento e encaminhou para dar seguimento, a enfermeira da unidade hospitalar de forma imediata entrou em contato com a coordenação de Vigilância em Saúde, para conhecimento do caso e assim, dar continuidade a assistência. CONDUTA: Preenchimento de ficha de notificação/acompanhamento, medicação da paciente (analgésico, antitérmico), orientação a paciente a seguir isolamento domiciliar, foi informada de que seria monitorada pela UBS via telefone. 

No dia 26/03, ficha de notificação/acompanhamento encaminhada à vigilância, a paciente ligou para o hospital solicitando atendimento e informou que gostaria de fazer os testes rápidos, foi realizado solicitação de hemograma, por outros motivos que ela relatou. Dando a continuidade ao fluxo de atendimento estabelecido, foi realizado o monitoramento diário via WhatsApp. 

Visita realizada pela equipe de saúde no dia 27 pela ESF, a mesma seguia com quadro clínico estável, não apresentou agravamento desde a entrada no hospital, relatou histórico de Rinite e falta de ar. Durante visita, paciente foi observado saturação 98% em ar ambiente, afebril, em BEG. CONDUTA: manteve prescrições do médico do primeiro atendimento hospitalar e seguir em isolamento domiciliar da mesma e dos contatos. Foi preenchido ficha de notificação/acompanhamento na Unidade Hospitalar hospital. Feito orientações sobre os sinais de gravidade. Se surgir, entrar em contato com a equipe. Seguindo o Protocolo de Manejo Clínico do Coronavírus (COVID-19) na Atenção Primária a Saúde, do Ministério da Saúde.

Com base nas recomendações da Secretaria de Estado da Saúde SESAU-AL e no informe epidemiológico da COVID-19, paciente apresentando Síndrome Gripal (SG), seguem a recomendação de orientação do isolamento domiciliar e dos contatos por um período de 14 dias. Na situação, se o paciente apresentar Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), a conduta se dá por: Isolamento hospitalar com medidas de precaução padrão por gotículas e contato, restrição de profissionais em contato com o paciente e restrição de visitas; no caso de procedimentos que gerem aerossóis utilizar máscara N95; Iniciar o fosfato de oseltamivir (Tamiflu) de imediato; Isolamento dos contatos domiciliares por 14 dias, NOTIFICAR: Na plataforma    e-SUS e no SIVEP-Gripe (SRAG) quando for unidade-sentinela, coletar amostra e encaminhar ao LACEN-AL acompanhada da ficha do RedCap e do GAL.
Em qualquer situação de SRAG ou SG, QUANDO O PACIENTE PERTENCER AO GRUPO DE RISCO, é indicado o uso do fosfato de oseltamivir (Tamiflu), conforme Protocolo de Influenza, do Ministério da Saúde (2017).

A coleta não é indicada para pessoas assintomáticas e para casos de resfriado ou Síndrome Gripal (SG), a coleta está apenas indicada para casos classificados como Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e para profissionais SINTOMÁTICOS para que possam com segurança desenvolver suas atividades laborais. 

Referências: 

Centro de Informações Estratégicas e Resposta em Vigilância em Saúde: Informe Epidemiológico CIEVS/AL do dia 25/03/2020 de Nº19; Ministério da Saúde: Protocolo de Manejo Clínico do Coronavírus (COVID-19) na Atenção Primária a Saúde: página 7, página 24;