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Apesar de incentivos em AL, Vale Verde escolhe porto de Sergipe para escoar minérios e estado perderá arrecadação

Mineradora deve iniciar extração de cobre daqui um ano e pretende escoar produção para o mercado internacional a partir do porto de Barra dos Coqueiros (SE)

27/08/2020 07h07 - Atualizado em 27/08/2020 07h07
Apesar de incentivos em AL, Vale Verde escolhe porto de Sergipe para escoar minérios e estado perderá arrecadação

A implantação do projeto Serrote, da Mineradora Vale Verde, no município de Craíbas, interior de Alagoas, foi cercada de expectativas, mas ao menos parte delas deverá ser frustrada. No segundo semestre de 2021, quando o projeto entrar em operação e o minério de cobre começar a ser extraído do solo craibense, a produção - que tem como destino o mercado internacional - não será escoada a partir do Porto de Maceió, arrecadando impostos para o Estado. Em vez disso, os minérios serão transportados via terrestre até o município de Barra dos Coqueiros, em Sergipe, para embarcar no Terminal Marítimo Inácio Barbosa (TMIB).

A possibilidade foi confirmada meses atrás, pela própria Vale Verde ao 7Segundos, por meio de nota, e confirmada por meio da publicação “Notícias de Mineração do Brasil”, em matéria publicada no início de agosto, quando anunciou que o projeto tem 60% das obras concluídas.

Desde a década de 80, eram feitos estudos geológicos no solo na região que compreende a divisa entre os municípios de Craíbas e Arapiraca, mas para a instalação da Mineradora Vale Verde na localidade conhecida como Serrote, houveram muitas discussões junto ao governo do Estado e à prefeitura, que concordaram em dar incentivos fiscais e fazer investimentos em infraestrutura para garantir a implantação do projeto, que recebe investimento de R$ 700 milhões do Grupo Appian, que adquiriu a Vale Verde em 2018, e que atualmente está empregando aproximadamente 1.200 pessoas.

Mas além da geração de empregos - é importante salientar que mais da metade deles é ocupado por moradores da região - há uma grande expectativa do retorno dos investimentos feitos com a arrecadação de impostos ao longo de mais de uma década em que o cobre será extraído. Para ter a Vale Verde operando no Agreste, o Estado incluiu a companhia no Programa de Desenvolvimento Integrado (Prodesin), que oferece o melhor incentivo fiscal de todo o Nordeste para a instalação de empresas: isenção de nada menos que 92% de ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços).

O Estado também investiu em obras de infraestrutura básica para o projeto Serrote, como uma adutora de água bruta que capta água do rio São Francisco em Traipu e é canalizada até o local, além de infraestrutura de energia e viária, que custaram perto de R$ 1 bilhão, conforme divulgado pelo governo do Estado na solenidade de instalação do projeto, no dia 19 de junho de 2019. Na cerimônia, o governador Renan Filho falou de suas expectativas em relação à mineradora.

“Esse é um empreendimento muito propagado no passado e que não havia se concretizado. Ele se concretizou agora e nós temos uma grande expectativa de que esse empreendimento seja capaz de alavancar a geração de emprego aqui em Craíbas e o desenvolvimento da região, trazendo novos negócios para Alagoas. A produção de cobre aqui sem dúvidas será importante para o Estado do ponto de vista tributário, de arrecadação de royalties e do desenvolvimento do interior de Alagoas”, avaliou o governador.

Com a escolha do porto localizado no interior de Sergipe para o embarque do minério, Alagoas perde ao menos parte da arrecadação tributária. Leia, a seguir, a nota enviada pela assessoria da Vale Verde ao 7Segundos em que fala sobre os estudos logísticos que não apontam o Porto de Maceió como o “mais viável” para o escoamento da produção:

“O Projeto Serrote – atualmente em fase de implantação – tem expectativa de início da operação para o segundo semestre de 2021. Não há, portanto, nenhum embarque de minério ocorrendo neste momento. Embora haja três possibilidades para o transporte do concentrado de cobre após o seu beneficiamento – o Porto de Maceió, localizado na capital Alagoana; o Terminal Marítimo Inácio Barbosa (TMIB), no município sergipano da Barra dos Coqueiros (SE); e o Porto de Suape, localizado no estado de Pernambuco – análises preliminares indicam que a alternativa mais viável, até este momento, para o escoamento do minério seja via Sergipe. Todos os estudos logísticos realizados consideram, entre diversas variáveis: o “calado” mínimo necessário para que as embarcações possam atracar, a distância até o Projeto, a viabilidade de equipamentos de carregamento de navios, a área disponível para armazenamento temporário, o interesse do ente público em direcionar (com exclusividade) uma parte considerável da estrutura portuária para uma operação de carga e descarga de minério (que poderia ser utilizada para uma outra finalidade – turística, por exemplo) etc”.

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